29 Junho 2022
Quem tem medo da cultura?
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Os vetos presidenciais às Leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, que visam a fomentar e desenvolver os setores culturais no Brasil, evidenciam uma cruzada contra a produção cultural brasileira. Recorrem-se às justificativas econômicas e orçamentárias para justificar os cortes de recursos para o setor cultural, mas, na verdade, há algo mais complexo por trás desse problema.
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Do ponto de vista econômico, as atividades culturais e criativas são cada vez mais determinantes pelo desenvolvimento econômico em inúmeros países, geram milhares de postos de trabalho diretamente e contribuem indiretamente para outros tantos ao aumentarem fluxos turísticos e promoverem as especificidades culturais dos países globalmente. Portanto, ser contra esse setor significa, em palavras claras, rasgar dinheiro, diminuir a recuperação da economia pós-pandemia, aumentar o desemprego, diminuir a renda do brasileiro e retirar o Brasil do grupo de países que investem na economia do futuro, aquela centrada na cultura e na capacidade criativa da população.
Em termos educacionais, a cultura permite o desenvolvimento de competências fundamentais no desenvolvimento humano, as quais se apresentam cada vez mais determinantes na qualificação profissional das pessoas. Em seu livro “21 lições para o Século XXI”, Yuval Harari aponta quatro competências a serem construídas ao longo do processo educacional: as competências crítica, criativa, comunicacional e colaborativa. É fácil perceber que a cultura permite o desenvolvimento dessas competências, portanto atacar a cultura é limitar o desenvolvimento educacional dos brasileiros e contribuir para o nosso atraso econômico e social.
Se a raiz do problema não está na dimensão econômica da produção cultural, a sua dimensão simbólica por vezes a faz ser percebida como uma ameaça, pois ela potencializa a liberdade de pensamento das pessoas. Basta que analisemos dois conjuntos de países para que percebamos essa realidade, os que possuem uma democracia consolidada e os demais em que ela está sob ameaça ou em formas pouco democráticas. Quais são os que incentivam a produção cultural, exportam seus conteúdos globalmente, geram empregos e atraem fluxo turístico? Por outro lado, quais são os que atacam a produção cultural e que a desejam controlar?
Em outra imagem, podemos pensar a invasão de um país por um inimigo, que dentre suas ações de conquista inclui a destruição da cultura local. O invasor sabe que a cultura é a expressão simbólica do povo e, portanto, sua destruição é parte fundamental da conquista. Quando um povo não for capaz de se reconhecer culturalmente, ele estará conquistado. E essa destruição simbólica é muito mais poderosa do que a destruição material.
As perdas econômicas causadas pelo ataque às atividades culturais e criativas no Brasil, nesse sentido, são os custos assumidos por um grupo que parece desejar levar o país para a Idade Média como resultado de um projeto de poder.
João Luiz de Figueiredo
Docente do Mestrado Profissional em Gestão da Economia Criativa (MPGEC) - ESPM-Rio e Coordenador do LEC - Laboratório de Economia Criativa, Desenvolvimento e Território.
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