06 Maio 2022
Uma janela para o céu ou uma janela indiscreta?
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No último dia 29 encerrou-se uma CinemaCon histórica, onde a maioria das Majors aprendeu que demolir as janelas de exibição desvia as vendas de ingressos, estimula uma maior pirataria e enfurece os talentos – atores e diretores.
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O CEO da NATO, John Fithian, declarou que “o lançamento simultâneo (cinema / streaming) está morto” durante seu discurso de abertura no CinemaCon 2022 em Las Vegas.
“Vitrines de cinema robustas protegem contra a pirataria. Se um grande título que as pessoas estão clamando para ver nos cinemas é lançado muito rapidamente para casa e depois pirateado, a tentação de ficar em casa e assistir a filmes piratas se torna maior para muitos espectadores em potencial”.
Nas apresentações das Majors, todos os principais executivos se posicionavam como o “melhor amigo” dos exibidores, reconhecendo que a velha forma de fazer negócios é a melhor maneira de ganhar dinheiro. De qualquer forma as janelas de exibições ainda parecem uma ciência oculta, variando de 17 dias até 45 dias, podendo ser ampliada ou diminuída, conforme características do conteúdo e do público-alvo.
Com a Netflix perdendo US$ 54 bilhões em capitalização de mercado em um dia há três semanas, e seus balanços com US$ 14,5 bilhões em dívidas de longo prazo, os estúdios de Hollywood com seus próprios serviços de streaming devem se preparar para uma dura realidade. Talvez isso demonstre que enquanto o streaming era dominado por uma ou duas empresas, havia um horizonte promissor, turbinado pela pandemia.
Isso pode ser um aprendizado para as Majors não abandonarem seu core business cinematográfico. O streaming é um aditivo ao negócio, mas o grande modelo de negócios de longo prazo é impulsionado pelo cinema.
A experiência de assistir um conteúdo em um cinema junto com um grupo de pessoas, transforma essa ação num evento cultural.
Os exibidores e os distribuidores sofreram um grande golpe durante a pandemia. Portanto, eles precisam encontrar maneiras de monetizar sua renda no curto prazo, mas a visão geral é que, para a saúde a longo prazo da indústria, será necessário regras claras e transparentes sobre as janelas de exibição, algo mais do que temos atualmente.
Antigamente, quando os filmes eram lançados em videocassete e depois em DVD, havia transparência sobre quando isso iria acontecer. No momento, há um déficit de comunicação, pois cabe a cada distribuidor decidir como administrar seus negócios, mas, no mínimo, seria importante melhor transparência e comunicação em torno dessas decisões.
O governo italiano estabeleceu uma janela de tempo firme de três meses entre o lançamento de um filme nos cinemas e quando ele pode ser lançado em uma plataforma de streaming. O ministro assinou uma lei que estenderá a janela cinematográfica de 90 dias existente para filmes italianos que se beneficiaram de subsídios do governo para agora incluir todos os filmes, independentemente de onde são produzidos ou como são financiados.
A França além de estrutura puma proposta firme para uma janela de exibição de quatro meses, reuniu os principais exibidores e serviços de streaming para se sentarem à mesma mesa e discutirem as regras e o futuro da indústria cinematográfica francesa e, também internacional.
A grande questão é como a janela de exibição cinematográfica será definida no Brasil.
Acredito que a regra brasileira é exatamente a falta de regra, pois não temos e não tivemos regras claras para essa importante questão.
Sem crucificar o passado, já é mais do que o momento do governo (através da ANCINE), exibidores, distribuidores, serviços de streaming, entre outros, abordarem de forma efetiva o futuro da indústria cinematográfica. Quem tomará a inciativa? Do lado dos exibidores eu sei que as principais lideranças já se movimentam para isso.
O cinema já enfrentou tempestades econômicas antes e ainda tem uma relação custo-benefício muito boa, em comparação com outras opções de lazer e entretenimento. Isso chega a ser inexplicável, diante de todas as intempéries. Portanto a definição das regras do jogo, nada mais é do que o reconhecimento da resiliência dos empreendedores da indústria cinematográfica.
Luiz Fernando Morau | morau@integradora.digital
Profissional sênior em infraestrutura, desenvolvimento e integração de soluções no audiovisual, digital cinema, broadcast, games, VR, AR e digital signage. Sócio e CEO da INTEGRADORA DIGITAL
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