Exibidor

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Artigo / Mercado & Tendências

20 Julho 2021

Muito a reconstruir

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E a pandemia do COVID-19 mostra seus primeiros sinais reais de uma caminhada para o seu fim. Embora em alguns territórios há muito a se lutar – e coloco o Brasil e a Índia neste contexto –, as coisas indicam seguir para sua normalidade. Quanto ao mercado de exibição cinematográfica, há muito ainda a se recuperar e muito mais ainda a se consolidar.

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Desde março de 2020, o exibidor tenta entender o que aconteceu e luta para se organizar para o que pode vir, mesmo sem ter mais informações para isso. O maior desafio neste meio do caminho é fôlego financeiro para se adaptar ao pós-pandemia.

As bilheterias já começam a dar o ar de sua graça e com tendência de crescimento semana após semana. Mas o processo de reconstrução do parque exibidor e do seu poder econômico já se mostra que será algo demorado, grandioso e precisará de muita paciência e organização econômica.

Focando exclusivamente ao território brasileiro, os desafios já começam na reabertura operacional das salas de cinema. Com a taxa de câmbio altíssima (em 12 de julho o dólar americano estava em R$ 5,18), muitos cinemas já começam a sofrer em reabrir somente por causa de uma peça de um projetor, um servidor DCP ou até mesmo de um aparelho de ar-condicionado central – todos itens importados. Ainda com restrições de lotação, comprar uma peça para reabrir uma sala pode não ter um retorno a curto prazo.

Dentro de alguns meses, as carências dos primeiros empréstimos consumidos no início da pandemia começam a cair e o exibidor precisará colocar em seu fluxo de caixa mais esta despesa. Há ainda as renegociações de aluguéis, condomínios e IPTU dos espaços.

Nos escritórios e cargos de administração, profissionais de anos abandonaram o barco no início da segunda onda por incertezas e aniversário de um ano com salários reduzidos ou atrasados. Resultado: mais investimentos em novas contratações, treinamentos e um novo exército de profissionais a serem inseridos a uma indústria que ainda gera dúvidas para quem não é da área.

Ainda há a grande crise do varejo que coloca em dúvidas o sucesso dos shopping centers pelo país. Com a consolidação das vendas de varejo pela internet, as operações de shopping centers já sofriam um pouco. Agora, com a pandemia, até mesmo grandes centros comerciais estão cercados de lojas desocupadas. E a exibição brasileira, extremamente dependente destes espaços, ainda pode sofrer baixas não por falta de filmes ou público, mas por falta de shoppings.

Mas como sempre diz o ditado: “há males que vem para o bem”. E é a partir de tais desafios que se pretende realizar a reconstrução da indústria da exibição.

Aos poucos, os cinemas vão reabrindo de acordo com a demanda, o público vai se aproximando e resultados começam a aparecer. Cinemas ainda irão fechar, mas muitos já estão em planejamento se serem construídos.

Espera-se que os números de ingressos retornem aos níveis de 2019 ainda em 2022. Em relação ao número de salas, somente em 2024.

O sucesso das plataformas de streaming irá ajudar a exibição de uma forma jamais esperada: a formação de público de conteúdo nacional. As plataformas têm testado sem qualquer pudor todo e qualquer gênero e, por consequência, formado um público ávido por conteúdo brasileiro, falado em português, sem legenda ou dublagens. Mais cedo do que esperamos, os cinemas brasileiros serão invadidos por policiais, dramas, romances, ficções e, lógico, comédias nacionais. Podemos estar próximos do fim da alta dependência do cinema estrangeiro.

Enfim, temos apenas que ter três virtudes para passar esse fim de tempestade e reconstruir o nosso mercado: paciência, perseverança e ouvir o nosso público como nunca.

Os sobreviventes irão ter tempos de bonança mais cedo do que imaginamos e transformar a ida ao cinema em uma experiência ainda melhor e maior do que era há dois anos atrás.

Vida longa à tela grande e muita luta pelo nosso sucesso!

Marcelo Lima
Marcelo Lima | marcelo.lima@tonks.com.br

Marcelo J. L. Lima é fundador e CEO da Tonks, empresa responsável pela Expocine, Portal Exibidor e Cine Marquise. Analista na indústria de cinema, Marcelo Lima também presta serviços de consultoria no setor.

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