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Artigo / Tendências & Mercado

24 Junho 2021

O day after do streaming?

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Noutro dia vi em redes sociais uma publicação que se propunha a esclarecer dúvidas sobre os diversos serviços, sistemas de assinaturas, programação e acesso entre os vários provedores de streaming disponíveis no Brasil.

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Essas informações são mesmo relevantes, e esse serviço vem em boa hora.

O Brasil conta atualmente com pelo menos 10 serviços de streaming importantes, com grande programação, pacotes, sistemas de pagamento, períodos de experimentação sem custo, conteúdos licenciados e outras características, e é praticamente impossível conhecer detalhes de todos nesta fase ainda introdutória do sistema.

Essa diversidade reflete a corrida dos produtores e distribuidores pela atenção e pelo bolso da audiência, mostrando já certa maturidade do mercado e, claro, certo congestionamento da oferta dessa modalidade de entretenimento.

O streaming ganhou valor inestimável ao oferecer quantidade e qualidade às pessoas, e se beneficiou do momento em que as condições de consumo desse serviço ficaram ainda mais facilitadas.

A corrida para se posicionar fortemente nesse mercado vem acompanhada de decisões e políticas que visam tornarem-se a solução definitiva do setor, mas que ainda não mostram uma direção clara para maximizar os ganhos e minimizar as eventuais perdas, especialmente entre os grandes produtores e distribuidores de conteúdo.

As janelas de exibição entre as várias mídias, por exemplo, seguem indefinidas; lançamentos simultâneos no streaming e nos Cinemas, janelas de 17 dias, de 30 dias, de 45 dias dependendo dos resultados do lançamento nos Cinemas, quais produções vão direto para o streaming e quais irão se beneficiar de uma exibição em Cinema, quais níveis de investimento na criação e fortalecimento das marcas e o próprio calendário de lançamentos são temas em discussão neste momento de consolidação do setor. 

As empresas puramente ligadas ao streaming, lideradas por Netflix, Amazon, Apple e outras, têm até agora ficado de fora dessas discussões, enquanto que as majors – lideradas por Disney, Warner e Universal – todas mais comprometidas com a janela Cinema, estão testando o mercado, com idas e vindas em suas estratégias.

No início de 2021 a Warner anunciou o lançamento simultâneo em Cinema e streaming de todas as suas produções no ano. Agora, especialmente depois de movimentos da concorrência e de alterações no comando e composição societária do Grupo, anuncia que vai mudar de estratégia em 2022, selecionando os títulos que irão diretamente para o streaming ou os que farão a geralmente lucrativa passagem antecipada pelos Cinemas.

A Amazon, em processo de assumir a MGM após um negócio de US$ 8.5 bilhões, passará a contar com títulos de forte potencial comercial – a franquia 007 é um dos melhores exemplos – e terá que avaliar com cuidado como irá explorar suas valiosas novas propriedades.

Por tudo isso, o que se nota é que o ano de 2021, à parte os severos problemas trazidos pela pandemia, será um ano de ajustes nas estratégias, investimentos, aquisições, estruturas de pessoal e comando, e também de direcionamento das produções, já que o mercado de streaming caminha para uma amadurecimento e consolidação, mas outras modalidades, como o Cinema, seguem comprovando seu valor em gerar brand awareness, want to see e call to action na audiência, termos em inglês que podem ser traduzidos como “sucesso”!

Para as novos participantes do mercado, tanto quanto para os que já estão atuando há tempos, estabelecer políticas de distribuição de conteúdos em streaming sem considerar a janela Cinema como relevante está se provando um erro, cometido por excelentes empresas e profissionais mas que, atraídos pela receita recorrente e pelo contato mais próximo e frequente com a audiência, deixaram, pelo menos momentaneamente, de gerar ganhos importantes em imagem, desejo, e também muito dinheiro, ao relegar a exibição nos Cinemas a segundo plano em seu planejamento.

Exemplos recentes foram os lançamentos de Um Lugar Silencioso II, da Paramount, e Cruella, da Disney, ambos no feriado do Memorial Day nos US. Lançado exclusivamente nos Cinemas, o filme da Paramount obteve abertura com bilheteria de mais de US$ 56 milhões no final de semana prolongado, em aproximadamente 3.000 cinemas; Cruella, por outro lado, lançado em aproximadamente 3.800 cinemas, estreou simultaneamente no serviço Disney+, e arrecadou por volta de US$ 26 milhões nos Cinemas no mesmo período. Como não há informações públicas sobre o volume ou faturamento do streaming, ao custo adicional de US$ 30 por acesso, fica a impressão de que talvez a Paramount tenha feito um ótimo negócio ao lançar seu filme nos Cinemas, gerando não somente maior bilheteria mas também ganhos de imagem e reforço da marca.

Os próximos 12 meses serão fundamentais para confirmar a retomada dos negócios em níveis mais elevados para o Cinema, mas também para mostrar quem realmente entende do negócio como um todo - gerando receitas importantes em todas as janelas possíveis –dos que querem buscar o brilho fugaz de uma estratégia aparentemente vitoriosa, mas que deixa dinheiro na mesa.

A conferir.

Marcos Oliveira
Marcos Oliveira

Marcos Oliveira é Consultor Especial do setor de Produção e Distribuição de Conteúdo Audiovisual, através de sua empresa Leverá Conteúdo e Negócios, que atua em desenvolvimento de projetos, captação, distribuição e consultoria. Sua carreira profissional inclui atividades em posições de liderança em empresas como Johnson & Johnson, Twentieth Century Fox Brasil e Austrália, Warner Bros e Universal Pictures.

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