02 Junho 2021
O encontro como Futuro Possível
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Em 2016 visitei à convite do British Council, em uma viagem de prospecção Adesampa/Spcine, alguns Hubs de Economia Criativa na Inglaterra. Viajamos de norte ao sul conhecendo boas práticas e modelos de negócio. Sempre fui entusiasta do modelo de hub, tendo eu mesmo participado de um, a Casa da Cultura Digital, local no qual empresas diferentes (produtores, jornalistas, hackers, designers) se juntavam em projetos memoráveis: Produção Cultural no Brasil (importante projeto multiplataforma para compreensão da produção brasileira - referencia até hoje), Festival Baixo Centro (mudamos a maneira do paulistano olhar para a cidade, ocupação das ruas pelas pessoas, debate sobre uma cidade mais aberta, festas nas ruas, antes de Haddad e de grupos marketeiros), Garoa Hack Club com a primeira impressora 3D do país,etc. Tudo possível pois existia um espaço propício a isto, de troca, do encontro e sendo um território de cultura digital, em 2010/2013 já era híbrido: muitos skypes, soluções digitais para colocar todes na mesma página e na mesma produção, mesmo estando fisicamente em outros locais do mundo, muitas vezes.
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Na Inglaterra, em outros países vejo que é um modelo que deu muito certo para a área criativa, enquanto aqui o sistema que prevaleceu foi do ecossistema de tecnologia e mais de coworking do que uma comunidade coesa (quando existe está atrelada a uma incubadora ou aceleradora como um Cubo). E existe espaço, portanto, para comunidades criativas crescerem e principalmente para o audiovisual, sendo um setor mais maduro.
Em 2021 nós estamos lutando para nos mantermos vivos e depois para continuar a girar a engrenagem. O setor audiovisual, quando possível trabalhar, está de casa ou dentro do set, poucos voltaram para os escritórios. Após um ano vale à pena manter um espaço grande para uma única empresa? Ou melhor reduzir custos, diminuir espaços e manter uma produtividade híbrida? O futuro do trabalho vem sendo tema de debate desde março de 2020, num primeiro momento as big tecs profetizaram que ninguém voltaria para escritórios; passado um ano, elas mesmas admitem que não será assim e um modelo parte presencial/ parte home office deve ser adotado. Somos seres sociais, precisamos do contato. Vejam as filas no primeiro dia de abertura dos cinemas em Paris. Se o “home” fosse tão definitivo não tinha acordo com os exibidores, migrariam 100% para o digital e obrigada cinema! Foi ótimo enquanto durou. Queremos, mesmo que breve, o encontro. Embora possamos assistir um trilhão de lives, nossa socialização ficou empobrecida, por consequência os horizontes também. São tantas as opções que é como se a vida tivesse se tornado um grande catalogo de plataformas, zapeia, zapeia e cai no mesmo programa sempre.
Ontem passei a manha no Cine Hub, o hub de audiovisual criado pela Coração da Selva. Antes da pandemia, o espaço, recém aberto, estava decolando para se tornar o espaço do encontro do setor. Onde há crise, há oportunidade, sempre! E estando lá ontem, imaginei o charmoso prédio cheio de vida, mesmo que não como poderia ser A.C (antes covid): produtores, entidades, profissionais, entidades, todos reunidos naquele prédio, trabalhando uma ou duas vezes por semana presencialmente, em suas salas, ou espaços de uso comum, e podendo encontrar com colegas com segurança, saber de um projeto novo, criar oportunidades de negócio, tendo um espaço digital próprio também para se “encontrarem” com mais pessoas do que é viável presencialmente. Ao invés da profusão e por consequência a inércia de nossa vida no ambiente agora digital, a “curadoria” de quem está no mesmo local, compartilha o espaço, um hub, e ações concretas como trocas, negócios, projetos.
Se olharmos no dicionário a palavra hub significa “eixo”, “ponto central”, “foco”, “coração”, tudo culmina para o seu centro, como uma força centrípeta. Para mim hub significa futuros possíveis. Eu gostaria de viver uma nova CCD, desta vez do audiovisual, com projetos tão memoráveis quanto, com negócios interessantes, diversa e pulsante.
Este é um texto sobre futuros. Encontros. Todos possíveis...
Malu Andrade
Malu Andrade é fundadore da rede Mulheres do Audiovisual BRASIL, membre do + Mulheres, Diretore da Coração da Selva e foi Diretore de Desenvolvimento Econômico e Políticas Audiovisual da Spcine.
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