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Artigo / Ensino & Formação Audiovisual

14 Abril 2021

A grande tela e o pensamento reflexivo

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Byung-Chul Han, filósofo sul coreano, em 2017,  retrata em seu livro "Sociedade do Cansaço”, um panorama do século XXI como um século que não seria mais assombrado por epidemias de cunho viral, mas, sim, aterrorizado por sequências de sintomas cujo cerne é de violência neuronal. Como toda hipótese, passível de equívocos, pudemos identificar que, em se tratando do cenário pós-moderno, a imprevisibilidade surge diante das circunstâncias e modificam nossa rota. Não há qualquer teoria ou filosofia que acerte ao buscar o controle da contingência.

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Em 2017 nós não sabíamos que um grande abalo em nosso antropocentrismo estava por vir e já podíamos identificar uma certa estafa neuro-social cultural que nos distanciava da reflexão e potencializava a fragmentação do mundo. Afoitos para concluir tarefas, ansiosos e agressivos para bater metas, nos tornamos parasitas sanguinários exterminadores da consciência. Fomos incompetentes e não vislumbramos tendências para evitar a grande crise em que nos encontramos. Somos uma sociedade doente e que aglomera sintomas disfuncionais.

Ao nos distanciarmos da natureza rompemos a conexão com nossa pura essência da contemplatividade. Eis que pequenos oásis de fraternidade, sabedoria e reflexão são a duras penas mantidos meio a selva de pedras e chacina da cultura: O cinema é nossa caverna de Platão na pós-modernidade e, quando suas salas são fechadas e silenciadas, grande parte do senso crítico coletivo de certa forma adormece.

O cinema é o espaço de conectar nossas emoções, angústias, criações e indignações... Quantas vezes já choramos ao lado de desconhecidos diante de um mesmo fato apresentado e por motivos diferentes mesmo em suas semelhanças?

Quantas vezes já sorrimos e olhamos para o lado para confirmar grandes momentos de relaxamento e identificação?

Na grande sala escura nós somos o que somos, não escondemos nem barramos o âmago de nossa pura essência sensível de ver ouvir absorver e sentir. Através do acesso ao imaginário transmitido ali somos capazes de mudar o aqui.

É por essa razão específica que como diria sabiamente Edgar Morin que: “A Educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão.”

O cinema, por sua vez, é fonte de educação sensível que não se encontra disponível na fragmentação e no pragmatismo dos sistemas educacionais atuais. O Cinema, em um país como o nosso, têm papel fundamental na implementação de novas possibilidades de pensamento e posicionamentos diante da vida. Cinema é arte, poesia, análise e democracia.

Devastados pela epidemia viral perdemos grande parte de nosso respiro neuronal fundamental para sair dessa melhores do que entramos. O streaming acolhe, mas jamais substitui a experiência de uma alma nua recebendo a nobreza, fonte de ativação da potência por meio da delicadeza da essência de um filme exibido em sua verdadeira casa.

Que a reflexão resista a propagação de todas as síndromes, em especial a da ignorância que silenciosamente mata a humanidade com suas atitudes egoícas, narcisistas e irresponsáveis. Vida longa as sagradas salas cinematográficas que cumprem um papel fundamental sócio-político econômico psíquico e cultural em nossa história.

Ana Júlia Ribeiro
Ana Júlia Ribeiro

Ana Júlia Ribeiro é apresentadora; Mestre de Cerimônias da Expocine; Professora de Teorias da Comunicação e Direção de Atores e Apresentadores nos cursos de Cinema, Jornalismo, Relações Públicas, Rádio e Televisão e Produção Audiovisual da FAAP; Membro e Pesquisadora do Complexus - Núcleo de Estudos da Complexidade de Edgard de Assis Carvalho. Possui Bacharelado em Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV e mestrado em Ciências Sociais - PUC - SP.

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