13 Abril 2021
O interior paulista e a proeminência dos acervos audiovisuais regionais
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A implementação de um plano de gestão de riscos em instituições museológicas tem como objetivo a salvaguarda de acervos com elevado potencial de deterioração - seja por más condições de conservação (falta de climatização, desumidificação etc), ou mesmo de problemas infraestruturais, do próprio prédio em que estão instalados (como a recente tragédia do Museu Nacional).
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O Projeto “Plano de Gestão de Riscos e Restauro do Acervo Campineiro do Museu da Imagem e do Som de Campinas”, foi contemplado no Edital 13/2019 do Programa de Ação Cultural da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo (ProAC), visando o socorro ao maior acervo do interior paulista.
Toda a memória audiovisual da cidade de Campinas, do decorrer do século XX, concentra-se no MIS Campinas, desde mais de 30 mil fotografias, centenas de aparelhos, 200 películas cinematográficas de diversas bitolas, quanto álbuns e gravações de programas de rádio e da Orquestra Sinfônica Municipal. Quase nenhum desses 800 tombos citados está digitalizado. Percebendo o risco iminente de perda do material, diversos agentes culturais locais e da capital, juntamente com consultores técnicos e funcionários do MIS, empenharam-se na realização de um relatório contendo um plano de gestão de riscos de todo o acervo do museu, entregue à Secretaria Municipal de Cultura em dezembro de 2018. O relatório apontou que, se as ações de reaparelhamento e catalogação não fossem tomadas, a decomposição, que atingiria todo o acervo em pouquíssimo tempo, não poderia ser revertida, em especial em relação às películas audiovisuais, uma vez que o climatizador estava inoperante.
O que mais justifica, no entanto, a altivez de Campinas para a preservação e modernização desse acervo em Imagem e Som é o próprio movimento orgânico de aglutinação de diversos agentes do setor rumo à salvaguarda de sua própria história - capitaneadas, na atualidade, nas ações da Câmara Temática do Audiovisual (CTAv Campinas), e o apoio cada vez mais determinante do ICine - Fórum de Cinema do Interior Paulista, que está revolucionando o desenvolvimento do audiovisual da nossa região, tendo como um de seus braços, seu GT de Preservação e Pesquisa, coordenado atualmente por Kit Menezes, que mapeia os acervos de todo o interior paulista.
Outro resultado da organização desse movimento se desdobrou na Câmara Municipal de Campinas em diversas audiências públicas, que determinaram a criação da Lei Amilar Alves, que regulou a circulação desse acervo - a primeira lei no Brasil a regular uma mostra histórica de cinema -, assim como a entrega do plano de gestão de riscos ao então Secretário Municipal de Cultura, Ney Carrasco.
O Projeto “Plano de Gestão de Riscos e Restauro do Acervo Campineiro do MIS-Campinas” abrange, através de uma complementação de programação pela Lei Aldir Blanc, além do restauro em si, o Seminário Internacional Preservação de Cinemas Regionais, nos dias 28 e 29/04, organizado por Alessandra Meleiro, Rafael de Luna Freire e Ramiro Rodrigues. O objetivo do Seminário é compartilhar experiências, refletir sobre dificuldades comuns e planejar ações conjuntas e colaborativas no âmbito de iniciativas locais de preservação de acervos audiovisuais regionais: ou seja, daqueles de fora dos grandes centros.
Serão abordados tópicos como Metodologias e estabelecimento de fluxos de trabalho, relação com os poderes públicos e alternativas de captação de recursos, formação e atualização de pessoal, estratégias de difusão e conscientização, aquisição e manutenção de equipamentos e insumos, fomento à pesquisa e parcerias com instituições de ensino, e dilemas para continuidade e prosseguimento dos projetos. O Seminário Internacional será transmitido pela Oeste Cinema, e comporá a IV Semana Amilar Alves da CTAv Campinas.
O restauro do Acervo do MIS Campinas terá como frutos também um livro, “Campinas, Um Século de Cinema”, com capítulos de mais de 20 autores campineiros, abrangendo o cinema realizado na cidade desde 1923; e um documentário acerca do restauro, dirigido por Jean Marcel Carmago, tendo como pivô as peripécias do técnico restaurador que, através do projeto, já realizou o restauro de diversos projetores e moviolas do museu: Ubirajara Zambotto.
Ramiro Rodrigues
Ramiro Rodrigues é cineasta e antropólogo - ex-presidente do ICine (Fórum de Cinema do Interior Paulista - 2020) e mestre em Artes da Cena (Dança, Performance, Teatro) pela Unicamp. Atualmente coordena o Restauro do Acervo do Museu da Imagem e Som de Campinas.
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