08 Abril 2021
O Silêncio do Oscar
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Com atraso, e certamente com várias diferenças em relação a cerimonias passadas, inclusive a de 2020, já em plena pandemia, vem aí a premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o Oscar!
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Previsto para ocorrer no próximo dia 25, trará uma seleção de produções de qualidade, como sempre, mas também com uma inédita representatividade cultural e social, traduzindo o momento pelo qual passamos todos, de discussões e reflexões sobre igualdade, diversidade e direitos de todas as pessoas em todas as áreas.
Quem está conseguindo assistir aos principais competidores deste ano pode confirmar a enorme variedade de situações sociais, culturais e de gênero retratadas, levantando e fortalecendo aspectos importantes do momento, e que chegam agora às produções cinematográficas com ainda mais força e representatividade.
Títulos importantes como Uma Noite em Miami, A Suprema Voz do Blues, Bela Vingança, Minari, e o super aguardado Nomadland, indicados em várias categorias, trazem aspectos sociais super atuais e relevantes, e irão marcar esta premiação como uma das mais socialmente engajadas dos últimos anos.
Não é sobre esses aspectos, todos muito importantes, que vamos tratar aqui.
Vamos tratar aqui do que vem sendo chamado de “um dos mais silenciosos Oscars de todos os tempos”, ou de como, apesar de as pessoas estarem consumindo cada vez mais os tais conteúdos em horas e mais horas defronte aos seus aparelhos audiovisuais, nunca houve tão pouca expressão, e especialmente público, para os filmes indicados para a mais importante premiação da indústria do entretenimento audiovisual.
A indústria, e especialmente os distribuidores e realizadores, simplesmente não conseguiram ajustar uma estratégia para oferecer aos seus consumidores alternativas efetivas para gerar uma audiência maciça para os filmes. Por outro lado, dadas as incertezas em relação ao calendário de estreias, à abertura ou não dos Cinemas, do retorno do publico e das demais condições geradas pela pandemia, os filmes de maior potencial de público têm sido adiados e adiados, e mesmo agora não há datas confirmadas para uma grande parcela dos lançamentos de maior potencial de público.
Desta forma, com a conjunção de filmes de grande valor artístico mas com limitado poder de atrair grandes públicos, e a falta de filmes de grande sucesso para compor uma gama variada de alternativas, o Oscar deste ano será um dos de menor apelo ao grande público dos últimos anos. Daí o tal “silencio”.
Seria uma boa notícia para os Cinemas, que se viram impossibilitados de operar e de gerar o barulho e a promoção em torno dos títulos e artistas envolvidos nas produções indicadas? Vai confirmar o que muitos pensam sobre a necessidade de uma boa exibição nos Cinemas como uma plataforma extraordinária de divulgação e geração de interesse do público? Vai levantar a questão de que mesmo com audiências poderosas os serviços de streaming não são capazes de gerar a mesma divulgação das exibições que começam nos Cinemas?
Sim e não.
O Cinema é sem dúvida a vitrine maior de qualquer produção, gerando não apenas arrecadação importante, e até o momento insubstituível, mas especialmente a cobertura de imprensa, as discussões nas redes sociais, o tal engajamento que tanto valor agrega aos títulos e aos talentos neles envolvidos – roteiristas, diretores, atores e atrizes, fotógrafos, figurinistas, iluminadores, músicos -. Sem uma definição sobre o que vai ocorrer e sem o planejamento fundamental das ações dos lançamentos, as produções estão sendo lançadas aqui e ali nos diversos serviços de disponibilização dos conteúdos, sem uma direção precisa e sem um trabalho adequado de divulgação para o grande público.
Entre as diversas estratégias de lançamento de filmes aguardados como esses, seja em qual meio for, uma das que mais resultam em benefícios para as produções é a que define o lançamento para quando o título está indicado, ou discutido, pelo público. Como fizemos diversas vezes nos lançamentos dos quais fiz parte, esse é o momento de aproveitar a escalada de um título junto ao público, o burburinho, o awareness, e lançar algumas semanas antes da premiação. Essa ação é fundamental para mostrar a produção a mais gente, na antecipação de uma premiação que certamente virá.
Alguns títulos esperados estarão disponíveis para o publico em cima da data da premiação, como o já premiado Nomadland, previsto para o dia 15, além de Bela Vingança e Minari, no momento marcados para 22/04. Mank, filme com maior número de indicações e já disponível na Netflix, não tem carreira prevista nos Cinemas, o que é uma pena.
O streaming pode muito, mas não pode tudo; a falta de condições de se estabelecer um calendário factível e a ausência dos Cinemas na equação vai cobrar um preço em termos da divulgação e da arrecadação que essa premiação normalmente gera. Essa situação merece um minuto de silencio.
O enredo da noite de premiação do Oscar em 25 de Abril é conhecido; alguma pompa, bons roteiros dos apresentadores, uma produção adequada ao momento, ótimos clips e trailers, talentos em seus pijamas, causas sociais importantes e alguma injustiça (como sempre ocorre).
Vai faltar somente um componente sempre importante nas demais premiações: o debate e o calor do público espectador após ter assistido aos filmes.
Tomara que no ano que vem possamos voltar ao modelo de maior previsibilidade nas datas e melhor divulgação dos filmes. Por enquanto, até o Oscar, se pudesse, iria até um Cinema assistir aos indicados.
Marcos Oliveira
Marcos Oliveira é Consultor Especial do setor de Produção e Distribuição de Conteúdo Audiovisual, através de sua empresa Leverá Conteúdo e Negócios, que atua em desenvolvimento de projetos, captação, distribuição e consultoria. Sua carreira profissional inclui atividades em posições de liderança em empresas como Johnson & Johnson, Twentieth Century Fox Brasil e Austrália, Warner Bros e Universal Pictures.
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