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Artigo / Política Pública

17 Março 2021

Incubadoras Audiovisuais

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Em 2016 visitei alguns hubs de economia criativa pela Inglaterra em busca de modelos de incubadoras/aceleradoras para o LEIA (lab de experimentação inovação em audiovisual) que à época desenvolvíamos no governo Haddad. O interessante era perceber as metodologias aplicadas, variando em tempo de incubação, aportes financeiros (ou não), tipo de empresa apta a participar do processo. Podemos dizer quem em média eram startups incubadas até 02 anos no espaço, recebendo aportes, em casos de aceleração, ou apenas mentorias dedicadas, workshops coletivos, participavam de rodadas de negócio e tinham um excelente espaço para networking.

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  1. Ano de 2019. Em reunião com a ABRAGAMES alguns dos participantes defendem a possibilidade de uma incubadora para projetos de games. Pedro Zambon disse a seguinte frase “muitas vezes melhor do que o aporte de capital, é saber como utilizar o investimento” (ou algo assim). Nunca ouvi tamanha verdade. Mais importante do que o volumoso capital é como qualquer investimento será utilizado, o que adiantam milhões se não há um acompanhamento?

Bem, em relações aos games, problema solucionado. Pela Spcine lançamos um edital de Seed Money, em 2020, para pequenas produtoras, atrelado a uma incubadora de games que se desenrola no ano de 2021.Programa inovador, nunca o poder público no Brasil, em qualquer esfera, fez algo similar, óbvio: programas de aceleração e incubação já existem (ainda bem), mas atrelado a um edital de produção de jogos não.  Porém, e o audiovisual “clássico”, este modelo cabe?

Deveriamos e temos excelentes protótipos já realizados ou sendo executados neste momento. Primeiro a parceria entre Br Lab e Ancine para o desenvolvimento de labs para projetos contemplados na chamada do Prodav 4. Rafael Sampaio e Mari Brasil fizeram um belíssimo trabalho com as séries selecionadas. Um trabalho com fôlego e extenso. Atualmente temos o trabalho de excelência do Projeto Paradiso através de sua incubadora de talentos: bolsas são concedidas para labs ou eventos internacionais específicos e os talentos também recebem mentoria de um time de peso, como por exemplo Kleber Mendonça Filho.

Agora imaginem um cenário hipotético, projetos de longas metragens contemplados, com itens financiáveis de até uns 5 milhões de reais e que ao invés de ficar arrastando por anos à fio para conseguir compor todo o orçamento em chamadas pingadas, tem todo dinheiro em no máximo 02 anos. Imaginem projetos de séries para serem desenvolvidos, ligados à produtoras (mesmo que pequenas). Todos num espaço físico convivendo e trocando por até 02 anos. 

Digo do espaço físico por ter trabalhado e convivido num hub incrível que foi a Casa da Cultura Digital, criado sob as bençãos de Gil e Juca Ferreira e que de conversas na cozinha, na sala, no hh saíram os projetos mais loucos e mais memoráveis da cultura digital brasileira. Sendo assim um Porto Digital, um hub como o da PUC RS, do audiovisual “clássico” seria uma ideia interessante (o Cine Hub da Coração da Selva procura isto), porém com a pandemia existem ferramentas online disponíveis aos montes para criar um senso de comunidade tão necessário e que faz a beleza do projeto. 

Em 2020 a área de formação da Spcine fez um protótipo de uma incubadora “informal” para os projetos contemplados nas políticas afirmativas. Informal pois fizemos uma colcha de retalhos: mentorias numa parceria com o projeto Paradiso, workshops e master também advindos desta parceria, de contrapartidas de eventos ou editais e contratações próprias, além da participação em rodadas de negócio. Porém ainda foi um experimento feito informalmente, sem este fio condutor e todo no digital, sem ainda uma metodologia de incubação de fato. Voltemos ,assim ao cenário hipotético...

... um espaço físico ou digital que conte com trabalho do Br Lab e do Paradiso, entre outros possíveis programas adaptado para este grupo e pensado à longo prazo, dois anos: Desenvolvimento, acompanhamento na produção e pós produção, área de negócios, rodadas, mentorias, apresentação a players internacionais, sales agents, missão de jornalistas, curadores de festivais internacionais para conhecerem os projetos. 

Este é um cenário hipotético que valeria experimentar para compreender o que sairia dali em médio e longo prazo (imediatismos não funcionam). Talvez a frase do início do texto, fruste alguns produtores, mas ao invés de investir pulverizado em diversos projetos, escolher os com potencial de fato (não custa reforçar que a diversidade/ pluralidade de equipe e narrativas conta aqui) e investir também no acompanhamento, na trajetória de cada um. Os games mostram que este pode ser um bom caminho.

Malu Andrade
Malu Andrade

Malu Andrade é fundadore da rede Mulheres do Audiovisual BRASIL, membre do + Mulheres, Diretore da Coração da Selva e foi Diretore de Desenvolvimento Econômico e Políticas Audiovisual da Spcine.

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