03 Maio 2018
CinemaCon 2018 - A exibição cinematográfica tem sim um futuro promissor
O evento este ano voltou a esquentar os ânimos dos exibidores
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De volta de mais uma CinemaCon, neste ano nenhum exibidor pode dizer que nada mudou. Após dois anos de um evento morno e sem grandes novidades, muito da ressaca duradoura que a digitalização acometeu principalmente o mercado Latino Americano, o evento este ano voltou a esquentar os ânimos dos exibidores.
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Em um cenário de donos de cinema preocupados com o avanço dos canais de streaming e com a queda de frequentadores nas salas de exibição, a pergunta que pairou à cabeça do exibidor nestes últimos anos era o famoso “E agora? Será que nosso negócio tem futuro?”.
Após 4 dias intensos de seminários, palestras e painéis, posso dizer que sim, tem um grande futuro. Mas não será fácil. A começar que o exibidor tem que se reinventar, sair da caixa e alterar a forma como trabalha com seu cinema. Isso é claramente um choque de gestão, mas tem tudo para dar certo. O negócio que durante anos era movido pela venda de conteúdo e alimentos ao consumidor final, agora tem outro propósito. O exibidor do futuro irá vender experiências. E, se fosse resumir em uma única palavra o futuro da exibição cinematográfica, utilizaria o próprio termo “experiência”. O exibidor que não vender experiência ao seu cliente, estará fora do mercado em pouco tempo.
Sons imersivos, poltronas que se movimentam, realidade virtual, assentos reclináveis, atendimento vip, telas gigantes, projeção laser 4K, enfim, qualquer experiência bem vendida tem as portas abertas para o futuro.
Os exibidores sul coreanos da CGV, por exemplo, apresentaram a consolidação do já famoso “Cultureplex” que une em um único lugar salas de cinema, restaurantes, salão de jogos, salão de festas, salas 4D, realidade virtual e muito mais. E tudo tematizado com o filme do momento. A Alamo Draft House cada dia mais faz sucesso com suas cervejarias nos lobbies de cada uma de suas unidades espalhadas pelos EUA. Já a canadense Cineplex preferiu adicionar som imersivo e poltronas semi-vip nas suas salas tradicionais e restaurante no setor vip com cardápio de pratos que ficam prontos rapidamente para o cliente não perder o filme.
Dentro das salas de cinema, as tradicionais poltronas não têm mais espaço. Agora, poltrona de cinema deve ser, no mínimo, semi-VIP e com braços duplos. A feira deste ano apresentou dezenas de soluções que poderão diminuir em média 30% o número de lugares de um cinema, mas aumentar em 50% seu faturamento. E estes números não são fantasiosos não, a própria National Amusements, uma das maiores exibidoras dos EUA, garantiu isso em seminário. A cada cinema remodelado deles, a frequência do cinema aumentou próximo a esta quantia.
Enfim, vencer o maior concorrente atual – o streaming – o exibidor precisa sair da caixa e investir. A primeira ação é muito mais fácil que a segunda. Mas, em conversa com agentes da ANCINE presentes no evento, isso também não será tão problemático.
No futuro - ainda é difícil saber - a CinemaCon 2018 também pode ser marcada pelo início de uma guerra tecnológica entre projetores vs. telas LED. Guerra esta que geraria um outro artigo que prometo escrever em breve. De antemão, conheci duas soluções de LED no evento (Samsung e Sony) e posso dizer que a qualidade é assustadoramente tão boa ou melhor que as melhores soluções de projeção existentes hoje no mercado. Porém, a questão “som” ainda é precária e isso só me faz acreditar que projetores laser e telas LED irão coexistir no futuro do cinema com um dando suporte ao outro e sempre buscando o melhor custo/benefício ao exibidor.
Volto da CinemaCon animado com o futuro da exibição cinematográfica. A ficha já caiu para os territórios dos EUA, Canadá e Ásia. A Europa patina e a América Latina precisa se reinventar desde ontem para vencer a concorrência. Concorrência essa que não é o cinema mais próximo do seu estabelecimento.
PS: vale lembrar que o último relatório de pirataria no mundo apontou que a distribuição ilegal de programas de TV ultrapassou a de conteúdos exibidos nos cinemas. Pela primeira vez na história, no mundo criminoso de conteúdo audiovisual, o cinema também tem perdido espaço para o streaming.
Marcelo Lima | marcelo.lima@tonks.com.br
Marcelo J. L. Lima é fundador e CEO da Tonks, empresa responsável pela Expocine, Portal Exibidor e Cine Marquise. Analista na indústria de cinema, Marcelo Lima também presta serviços de consultoria no setor.
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