02 Março 2021
O Caminho Internacional
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Co-produzir internacionalmente deveria ser uma escolha e não uma quase imposição, entretanto no Brasil de 2021 não resta muitas alternativas aos produtores brasileiros. Como bem disse Sara Silveira em conversa com a Laís Bodanzky no dia 11 de fevereiro na mesa “Cenário Internacional para novos talentos” qualquer sessenta mil euros já é uma ajuda para lá de bem vinda nos dias atuais. Por dois motivos: valor do cambio mas principalmente o pouco recurso disponível no mercado nacional. A paralisação total da Ancine gera sérios e graves entraves à produção brasileira, absolutamente lamentável.
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Em conversas com produtores o tema é recorrente e as parcerias as mais diferentes possíveis, não apenas os arranjos mais tradicionais, como França, Portugal, mas também outros menos prováveis.
Se é preciso fazer do limão uma limonada, o lado positivo são novos mercados a serem explorados, mais ajuda (em teoria) para inserção de um projeto internacionalmente, outros olhares, o que dá mais riqueza ao projeto.
Ano passado o Projeto Paradiso com Cinema do Brasil e Brazilian Content desenvolveram excelentes guias de fundos internacionais (Show Me the Fund), para todos os gostos e orçamentos. Com certeza podem ajudar e muito na prospecção. Prospecção esta que com a pandemia ficou um pouco abalada. Por mais esforços feitos por alguns mercados para continuarem funcionando, de forma digital, é bem mais complexo criar um ambiente de negócios quando não é possível trombar com aquele produtor, sales agent, etc no corredor, tomar aquele cafezinho ou um drink descompromissado no final do dia. Este ano começa com os mercados novamente no digital, o que de fato não é de grande ajuda.
A Spcine continuou com o apoio aos eventos mesmo em ambiente online, inclusive os de mercado e três deles foram importantes para criar conexões internacionais para o setor. O primeiro é o ouro do setor, o Br Lab, a importância do evento criado pelo Rafael Sampaio é enorme para relações latino- americanas; os outros dois patrocinamos pela primeira vez: FIM Women´s Film Market e o Pontes Nórdicas. Nos três a preocupação era capacitar produtores para o mercado internacional, pois sabemos o quão complexo é. O FIM Women´s Film Market teve especificamente este objetivo e foi um grande evento neste sentido, com foco em mulheres (embora não só elas tenham participado) foi importante para dar o caminho das pedras. Se este é o caminho que se desenha à curto e médio prazo, a co-produção internacional, o mais importante é criar bases sólidas para que produtores brasileiros tenham know-how de como criar oportunidades de negócios. Com este eixo internacional vejo o poder publico (Spcine através de patrocínios e editais), entidades representativas do setor (através da Apex) e instituições ou iniciativas privadas/ terceiro setor (IOR e outras iniciativas) trabalhando às vezes em conjunto ou não para que o objetivo seja alcançado, o que entendo ser fundamental para o sucesso da empreitada.
Em que pese o orçamento limitado dos municípios e estados frente ao volume de recursos do FSA, é preciso ter um olhar estratégico para estes investimentos. Criar condições para co-produções internacionais através de linhas específicas é um caminho necessário. Não soluciona o problema, evidentemente, entretanto pode auxiliar projetos sólidos com recursos estrangeiros já amarrados ou muito bem encaminhados a serem produzidos e ganharem mercado.
Para além das produções brasileiras, precisamos olhar também para a atração de filmagens. Claro que o fundamental é assegurar propriedades brasileiras, porém qualquer cidade com enfoque no audiovisual não pode se furtar de uma política forte neste quesito. Não só traz recurso para cidade, também traz empregos para os técnicos, principalmente, know how, atrai outros investimentos, etc. O report o BFI para o ano de 2020 traz impressionantes números para produções internacionais filmadas em territórios britânicos e co-produções internacionais, praticamente 91% do valor gerado pela indústria audiovisual no Reino Unido, ou mais de 1 bilhão de libras. Claro, estamos falando de um país já muito bem estruturado para tanto, porém demonstra a potencia de mecanismos como tax ou cash rebate.
Embora ache a frase “startupera” “na diversidade, se criam grandes oportunidades” um grande clichê perigoso, podemos olhar para o horizonte à longo prazo e entender que este movimento quase que forçado para águas internacionais pode trazer bons frutos para nosso mercado. Todavia só será verdade se continuarmos na luta incansável para a manutenção das instituições e o fortalecimento de propriedades intelectuais brasileiras.
Malu Andrade
Malu Andrade é fundadore da rede Mulheres do Audiovisual BRASIL, membre do + Mulheres, Diretore da Coração da Selva e foi Diretore de Desenvolvimento Econômico e Políticas Audiovisual da Spcine.
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