19 Janeiro 2021
Criatividade na retomada
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A Associação de Cinema da Coreia, formada por exibidores do país, anunciou nesse 18 de janeiro um plano que tem o objetivo de incentivar os distribuidores a lançarem conteúdo inédito direto nos cinemas, dando um novo gás para a recuperação das bilheterias do país, que assim como todo o mundo, também foram fortemente atingidas pela Covid-19.
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Na semana passada, a Coreia começou a afrouxar suas leis de distanciamento social, o que fez com os cinemas pudessem abrir mais salas e com mais capacidades no país. Entretanto, os cinemas permanecem vazios. O total de admissões nos cinemas coreanos caiu para 10.000 espectadores por dia. Esses dados podem ser entendidos da seguinte forma: A cada cinema com 100 lugares, apenas duas pessoas estão presentes nas salas.
O plano de incentivo, com data para entrar em vigor durante o mês de fevereiro (com possibilidade de extensão para próximos meses) funcionará da seguinte maneira: Os principais exibidores do país pagarão por volta de 1 dólar a mais (KW1.000) aos distribuidores por cada ingresso vendido nos cinemas, e os exibidores menores pagarão pro volta de 45 cents/dólar (KW500) a mais por ingressos vendidos.
Esse incentivo valerá para filmes inéditos e lançados exclusivamente nos cinemas. A iniciativa valerá tanto pra lançamentos locais quanto para lançamentos estrangeiros, e durará durante duas semanas por título. – Vale lembrar que esse valor será dado como um extra além da parcela de 50-55% das vendas por ingresso que os distribuidores geralmente recebem na Coreia.
Segundo Hwang Jae Hyeon, líder dessa inciativa de distribuidores, o objetivo desse incentivo extra é encorajar os exibidores a lançarem conteúdos inéditos para serem assistidos nos cinemas. Devido ao medo a incerteza causado pela pandemia, distribuidores estão adiando seus lançamentos ou fechando parcerias direto com o streaming, dificultando a retomada do setor de exibição no país.
Estamos todos no mesmo barco: exibidores, distribuidores e produtores. O entretenimento tem sido escape durante a pandemia, e os poucos mercados que já retomaram suas atividades veem demonstrando um crescimento do público fiel, que com a retomada das atividades sociais, não abandonaram os cinemas. Não é um trabalho fácil, mas todos estamos juntos, lutando e buscando alternativas para conseguir sair dessa crise que afetou todo o mercado.
Entretanto, é indiscutível que exibidores e produtores são os que mais veem sofrendo e que lutam por alternativas criativas para sair dessa crise. Exibidores praticamente não tiveram um ano de 2020, e, com a volta as atividades, vem sofrendo pela falta de títulos que chamem a atenção do público. Produtores, por outro lado, não conseguem ter uma estreia de seus filmes nos cinemas, vendo os títulos irem direto ao streaming, sem nenhuma campanha de marketing, tornando-se apenas um número em uma plataforma que busca quantidade como forma de oferecer ao cliente a falsa sensação de infinitas possibilidades.
Agora, mais do que nunca, o marketing é 100% fundamental para que aconteça uma retomada do mercado de cinema. Se o circuito exibidor já vinha sofrendo nos últimos anos aqui no Brasil, esse ano se demonstrará complicado, com a escolha da Warner em lançar seus títulos em sua plataforma e simultaneamente nos cinemas, dividindo a parcela do público que prefere ficar em casa, os blockbsuters, que costumam levar multidões aos cinemas, estarão mais acessíveis de casa, fazendo o espectador pensar duas vezes antes de comprar um ingresso nos cinemas.
Acredito que o momento do cinema atual é apresentar produtos de entretenimento para uma massa que ficou mimada na última década com o consumo de produtos “formuláicos” de conhecimento já existente. O trabalho a ser feito agora é algo de formiguinha, passo a passo, com estratégias de marketing únicas e modelos de distribuição inéditos. É preciso pensarmos todos juntos: exibidores, distribuidores e produtores, para podermos retomar nosso mercado. Não devemos retomar ao patamar que estávamos, devemos elevar nosso patamar e sair da zona de conforto, com ideias inéditas.
A gente vai conseguir sair dessa juntos.
Gui Pereira
Gui Pereira é fundador da Dodô Filmes, em São Paulo e cineasta. Estudou na New York Film Academy, e em seguida, formou-se pela Los Angeles Film School em 2010 e fez Pós Graduação, na Art Institute of California, onde se formou em 2012. Sua estréia no cinemas foi com o longa “Coração de Cowboy” em 2018, com a participação de Chitãozinho & Xororó, Gabriel Sater, Thaila Ayala, Thaís Pacholek, Jackson Antunes. Também trabalhou com artistas como: Tom Cavalcante, Garth Brooks e Lou Ferrigno. Recebeu prêmios em diversos festivais no mundo todo.
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