16 Dezembro 2020
Prognósticos para entender o impacto e a extensão da crise provocada pela pandemia
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Diferentes foram os prognósticos realizados para entender o impacto e a extensão da crise provocada pela pandemia do Covid-19 na economia nacional. Dentre eles, citamos o da Fundação Getúlio Vargas - que evidenciou que, caso não houvesse o coronavírus, a década atual já seria a 'mais perdida' em termos de crescimento econômico dos últimos 120 anos[1], e a pesquisa do IBGE “Pulso Empresa: Impacto da Covid-19” [2], que se voltou a entender os efeitos da pandemia no setor de serviços, o maior gerador de empregos do país, e o que mais foi afetado negativamente. Aqui, o impacto mais profundo foi nas pequenas empresas, e é justamente nesse segmento que as empresas do setor cultural se inserem.
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Muitos são os desafios enfrentados pelos gestores culturais e do audiovisual desde o início da pandemia. Enormes transformações nos modos de produção, circulação e consumo de produtos e serviços estão em andamento, exigindo reinvenções nas políticas públicas e nos modelos de negócios. Dessa capacidade de reinvenção e de ação depende a sobrevivência de organizações, empresas e trabalhadores e a recuperação do setor cultural e do audiovisual enquanto durar a pandemia.
Assim, no combate aos impactos do coronavírus, governos de vários países do globo voltaram suas ações de amparo à sociedade e mitigação de danos econômicos também para o setor cultural e audiovisual. Em nosso país a reação do governo federal foi tardia e, ao que tudo indica, ineficaz. Apesar da Lei nº 14.017/2020 (Lei Aldir Blanc) ter potencial para injetar repasses maiores que as dotações orçamentárias de alguns estados e capitais brasileiros para a cultura (37% dos estados receberão repasse maior que sua dotação orçamentária para 2020 – com metade deles podendo somar mais do que o dobro de seu orçamento –, como Alagoas, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro e Santa Catarina) [3], o processo de construção dos editais foi desarticulado e os benefícios parecem não estar atendendo amplamente aos que mais foram afetados.
Ainda sobre os prognósticos, visando a urgência de se pensar os efeitos da pandemia na mídia contemporânea, o Laboratório LabArteMídia, da Escola de Comunicações e Artes da USP, lançará neste mês de dezembro/20 a publicação “PANDEMÍDIA: Vírus, Contaminações e Confinamentos, gestado durante nove meses de pandemia da Covid-19 em nosso país.
“PANDEMÍDIA” trará reflexões acerca dos efeitos suscitados pela pandemia do Coronavírus na relação da sociedade com os recursos audiovisuais, buscando responder a inquietantes perguntas, tais como:
“Será que estamos vivendo um novo paradigma das relações interpessoais e da comunicação? Como o audiovisual expandido está sendo utilizado para manter, de forma global, a rotina de trabalho, ensino e lazer da humanidade? E como tem sido utilizado, também, para gerar empatia e engajamento social? Como os efeitos da pandemia alteram, potencializam as mediações tecnológicas? Como se dá os rearranjos na relação do público contemporâneo com os meios jornalísticos, com a notícia em si e com os processos de desinformação? Como esse sistema instaura novos processos de exclusão de populações inteiras e de exploração do trabalho? Como os recursos tecnológicos ganham protagonismo diante da imposição de todo o planeta conectado e obrigado a pensar de forma emergencial – mas também permanente – seus funcionamentos estruturais vinculados a trabalho, educação e lazer? Como se dá o processo de exercício de poder pela figura do Estado, que parece autorizado a tomar decisões em proporções nunca vistas em tempos de paz? E, por fim, como o confinamento altera as relações com o ambiente digital, potencializando seus recursos e, ao mesmo, revelando suas contradições?”.[4]
Tão complexo quanto conter a contaminação pelo vírus é conter a contaminação pela desinformação que se espalha em texto, imagens, vídeos e som pelas redes sociais. Neste sentido, à contribuição ao fenômeno Pandemídia, cunhado pelo LabArteMídia, soma-se a Desinfopandemia, termo cunhado pela UNESCO. Ambos trazem importante contribuição para, publicamente, evidenciar o papel societário da pesquisa, da comunicação e das boas e responsáveis práticas midiáticas, rumo a um futuro melhor.
[1] Brasil deve deixar de ser uma das 10 maiores economias do mundo, diz estudo. Uol, 2020. Disponível em <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/11/09/fgv-ibre-estudo-brasil-dez-maiores-economias-pib.htm>. Acesso em 02/12/2020.
[2] Pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas empresas. IBGE, 2020. Disponível em <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/saude/28291-pesquisa-pulso-empresa-impacto-da-covid-19-nas-empresas.html?=&t=o-que-e>. Acesso em 03/12/2020.
[3] Dez anos de Economia da Cultura no Brasil e os Impactos da Covid-19. Itaú Cultural, São Paulo: 2020.
[4] Chamada de textos para o e-book PANDEMÍDIA: Vírus, Contaminações e Confinamentos. LabArteMídia, 2020. Disponível em < Chamada de textos para o e-book PANDEMÍDIA: Vírus, Contaminações e Confinamentos - LabArteMídia (usp.br)>. Acesso 02/12/2020.
Alessandra Meleiro
Pós-doutorado junto à University of London e Professora do Bacharelado em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos. Presidente do IC – Instituto das Indústrias Criativas, membro da UNCTAD/ONU. Foi Presidente do FORCINE entre 2016-2020. Autora de 09 livros sobre cinema mundial, políticas e indústria audiovisual. Atuou como Research Fellow na Dinamarca junto à Aarhus University (2014-2018) e VIA University/ School of Business, Technology and Creative Industries (2020) e como Consultora de empresas como Netflix Brasil, Itaú Cultural, Anima Mundi/JLeiva, dentre outras.
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