Exibidor

Publicidade

Artigo / Tecnologia

09 Fevereiro 2018

Socorro, a cabine sumiu

É um erro pensar que a história toda tem a ver com a mudança tecnológica do projetor

Compartilhe:

Um tema de interesse para o exibidor, que vem sendo discutido com o fim dos projetores de 35 mm e suas grandes torres de pratos, é a possibilidade de eliminar as clássicas cabines do cinema, e substitui-las completamente ou construir uma minicabine, ganhando espaço para acomodar mais espectadores. Quando a solução é aplicada a maioria das salas ou a todas, até é possível construir uma sala adicional no complexo.

Publicidade fechar X

Mas tudo tem seu preço. É um erro pensar que a história toda tem a ver com a mudança tecnológica do projetor. É uma estratégia baseada em mudar as coisas de lugar. E não basta encontrar espaço para o projetor. Tem outras coisas escondidas nas cabines clássicas: existe o UPS (curiosamente rebatizado no Brasil em Tupiniquim-Inglês como Nobreak), o painel de energia, a automação, um eventual servidor e muito especialmente os equipamentos de som. No final, cinema é um espetáculo audiovisual. Esses equipamentos todos geram calor e ruído de ventoinhas. E precisam ser acessados para manutenção. Porque neste mundo, acreditem, as coisas quebram e o show não pode parar. Mas quando se opta por minicabine ou diretamente sem cabine, a falta de espaço pode virar um pesadelo para os instaladores e técnicos de manutenção que, garanto, existem e são necessários.

Mas como resolver o problema? Por motivos óbvios, o projetor precisa estar onde está. A nova solução para ele precisa de isolamento acústico e fornecimento de ar, muito ar condicionado e exaustão. Mas os outros equipamentos precisam de um novo lugar. O servidor e a automação podem ficar onde estão, juntos ao projetor,  pois não ocupam muito lugar. Mas os equipamentos de som podem ir em outros lugares, normalmente desaproveitados. E com o som imersivo, as exigências de espaço para eles ficaram bem maiores.

Um dos lugares que podem ser aproveitados é aquele que fica por trás da tela, entre as caixas de som, ou por baixo delas. Neste caso, várias providências precisam ser tomadas. A fiação das caixas e de fornecimento de energia tem que ser mudada para esse lugar. E para evitar ruído de ventoinhas e luzes de amplificadores piscando por trás da tela, é imprescindível instalar um tapume com tratamento acústico, entre a tela e os equipamentos. E também é preciso cuidar do fácil acesso e o espaço para a manutenção, pelo menos 60 cm pela frente e por trás dos racks. E que os mesmos recebam ar condicionado. Devem ser instaladas escadas e plataformas seguras, capazes de suportar o peso tanto dos equipamentos como do técnico que irá acessar o local. E providenciar uma porta com chave, para evitar acesso indevido. Este é um espaço muito vulnerável. De passo, valem as mesmas recomendações para as próprias plataformas onde se instalam as caixas de som, estruturas frequentemente negligenciadas. Drivers de cornetas de som e alto-falantes podem dar defeito e precisam de manutenção. Facilidade de acesso, construção robusta e segura é uma necessidade que deve ser repassada para o arquiteto e a construtora quando se fala do que acontece com as estruturas por trás da tela. Um lugar que também existe no mundo, garanto.

Há um outro lugar que pode ser aproveitado para instalar os equipamentos de som e UPS: embaixo da plateia. É um espaço enorme que existe graças à modalidade estádio e frequentemente sem uso. Nesse caso, é importantíssimo instalar dutos que comuniquem diretamente com a cabine de projeção, normalmente acima, para levar a fiação e também contar com fornecimento de ar condicionado, tanto de injeção como de extração. Isto deve ser bem planejado, pois em alguns casos precisara atravessar laje de concreto.

Epílogo: É possível eliminar a maior parte da cabine, mas não pode eliminar a necessidade da instalação e manutenção e suas exigências. No final, o cinema fatura quando funciona.

Carlos Klachquin
Carlos Klachquin | CBK@dolby.com

Carlos Klachquin é gerente da DBM Cinema Ltda, empresa de serviços, projetos e consultoria na área de produção e exibição cinematográfica. Formado como engenheiro eletrônico fornece suporte de engenharia em tecnologias de áudio, entre outras empresas, para Dolby Laboratories Inc, sendo responsável também pela administração de operações vinculadas à produção Dolby de cinema e ao licenciamento das mesmas na América Latina. Desde 2013, trabalha na implementação do programa Dolby Atmos na América Latina, incluindo a supervisão da instalação e a regulagem dos sistemas em cinemas e estúdios e da produção de som Atmos no Brasil.

Compartilhe: