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Artigo / Audiovisual

07 Dezembro 2020

O desafio de lançar um filme durante a pandemia

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Em novembro lancei meu primeiro filme como produtora executiva. “Pacarrete”, realizado pelo diretor cearense Allan Deberton, foi o grande vencedor do Festival de Cinema Gramado de 2019. Considerado um "hit" nos festivais de cinema daquele ano, circulou em mais de 40 cidades do Brasil e do mundo, onde ganhou 27 prêmios. Simples e de baixo orçamento, foi protagonizado por Marcélia Cartaxo que, por sua brilhante performance, voltou a estar nas manchetes da grande mídia, o que não se via acontecer desde que o mundo conheceu a sua Macabéa, de A Hora da Estrela , quando Marcélia foi eleita melhor atriz no Festival de Berlim de 1986.

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Pacarrete” seria lançado nas salas de cinema em abril deste ano, mas veio a pandemia e nossos planos mudaram completamente. Depois de vários meses sem caminho certo, dúvidas entre lançar direto no streaming (se a ANCINE assim permitisse) ou aguardar lançamento nos cinemas para ano que vem, optamos por concorrer à vaga de representante brasileiro no Oscar 2021, atendendo a regra de inscrição que exigia o lançamento comercial ainda em 2020. Com a reabertura dos cinemas e com o desejo de dar a opção ao público da tela grande, pois acreditamos no poder da primeira janela e, sabendo que teríamos um 2021 muito mais competitivo, optamos por lançá-lo e evitar, assim, o prejuízo do filme envelhecer ou até mesmo vazar na internet. Foi nosso dilema.

O filme teve sua estreia no dia 26 de novembro. Bem como imaginamos, a repercussão no Ceará foi maior do que nos outros Estados. Dentro da capacidade permitida por sala, várias sessões de Fortaleza estavam lotadas e muita gente voltou para casa sem ver o filme. Mesmo não tendo a mesma média de público nas outras praças, seu desempenho fez com que ele fosse o segundo melhor lançamento comercial do final de semana, atrás apenas de “Invasão Zumbi 2 – Península”, que foi lançado em 359 cinemas. “Pacarrete” estreou em apenas 28 salas do país. Estes números importam. Nosso filme foi visto por 1.848 espectadores na primeira semana e foi o título brasileiro com melhor performance na semana de estreia. Estranho se animar com tão pouco, não? Mas significa.

O resultado foi comemorado por todo elenco e equipe. Essa nova realidade dos cinemas tem nos feito pensar como será a carreira do filme, afinal, muita gente ainda se sente insegura nos cinemas e aguarda vê-lo em casa. Como a maior parte dos lançamentos nacionais, os próximos passos incluem o lançamento nas plataformas VOD, na rede Telecine e no Canal Brasil. O filme também será lançado em home-vídeo, início de 2021.

Enquanto ainda vivemos essa realidade pandêmica no mundo, estou aproveitando a boa onda de “Pacarrete” para desenvolver os novos projetos do Allan Deberton. Contar boas histórias e se comunicar com o público é fundamental. Emocionar, fazer refletir e gerar diálogos. Reafirmo meu discurso da riqueza e diversidade de nosso cinema brasileiro e de como é importante dar voz a novos talentos. Não fosse uma política de incentivo a primeiros filmes, como já aconteceu de forma mais organizada no nosso país, filmes como “Pacarrete” não teriam sido feitos. Há muito do cinema nacional a ser descoberto – e incentivado.

Ariadne Mazzetti
Ariadne Mazzetti

Ariadne Mazzetti é sócia diretora da Mistika Post, produtora e representante de Infraestrutura da SIAESP.

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