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Artigo / Audiovisual

18 Novembro 2020

A pandemia e o paradoxo do audiovisual

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Muitas ações culturais migraram para o formato online. Isso significa mais oportunidades pro setor audiovisual? Em trabalho sim, em termos de captação de recursos, não necessariamente. O setor sofreu forte impacto: não apenas as produções foram paralisadas por muitos meses, retomando aos poucos agora, no final de 2020, como a captação de recursos sofreu com a incerteza e instabilidade trazida pelo momento, além dos aspectos propriamente econômicos.

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Entre os patrocinadores há uma insegurança em financiar projetos sem saber quando as produções serão de fato entregues, ou se poderão ser exibidas num cinema, por exemplo. Para boa parte do setor que dependia do FSA – Fundo Setorial do Audiovisual – há grandes dificuldades, pois ele continua parado, justo aquele que era uma das mais importantes fontes de recursos da área.

Uma opção foi buscar fundos internacionais e players como Netflix, Amazon e Globoplay. Não que isso seja fácil e tenha resolvido o financiamento ao setor, longe disso. Outro ponto que parece inclusive já estar sendo retomado são as produções de baixo orçamento... Mas a solução parece ficar cada vez mais evidente que seja a adoção de políticas públicas consistentes para o financiamento ao setor, até pelo impacto econômico (entre tantos outros) que gera.

As grandes produções ainda devem demorar a serem retomadas, pois ainda têm seus custos encarecidos pelos protocolos de segurança obrigatórios por conta da Covid-19, para minimizar riscos às equipes.

Aliás, embora a maioria dos festivais e eventos do setor tenham sido mantidos e migrado para o formato virtual, este foi um ponto desafiador. Em geral, os custos programados para a logística dos projetos foram readequados e destinados ao streaming, mas os protocolos foram desafiadores para manter a segurança nas realizações.

Voltando ao tema da produção cinematográfica: houve, em certo momento da pandemia, uma aposta no formato Drive-In, mas já é possível perceber que, por diversas razões, ele não será suficiente para substituir os cinemas nem tampouco resolver a distribuição dos filmes.

Para a captação de recursos empresariais e a busca por financiamento independente no Brasil pandêmico, quem já passou dos 40 anos lembrará com facilidade da publicidade que perguntava se uma certa marca de biscoitos vendia mais porque estava sempre fresquinha ou estava sempre fresquinha porque vendia mais?! O caso da produção audiovisual brasileira na pandemia traz esse questionamento. Com o vírus impactando diretamente no andamento e custo das produções e da distribuição, qual será o impacto nas captações? Some-se a isso a já exposta questão da crise do financiamento via fundos, a própria crise financeira trazida pela Covid e a desconfiança de investidores privados, o resultado poderia ser classificado como um filme de suspense com nuances de terror. E a pergunta que não quer calar é: teremos final feliz?

Daniele Torres
Daniele Torres

Daniele Torres é museóloga, com pós em história da arte, gestão cultural e comunicação empresarial. Atua há mais de 20 anos com leis de incentivo e captação de recursos. Sócia da Companhia da Cultura, gestora de projetos e consultora de Investimento Social Privado, e também sócia diretora do Cultura e Mercado, site e escola de cursos livres. Atualmente é também conselheira da Comissão de Direito das Artes da OAB-SP.

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