28 Outubro 2020
QUIBI-leeeeza!
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Mesmo ele não trabalhando mais na Fox Brasil havia anos, era comum escutar de vez em quando alguns dos jargões do Marcos Oliveira pelo escritório. Entre eles, o “Qui-Maraviiiiilha!” dito com a voz mais grossa e estendendo bem o “i”. Podia ser usado para tudo: celebrar um bom resultado, brincar com algum colega, ou diminuir a tensão quando alguma coisa dava errado. Vou pedir permissão para adaptá-lo em um péssimo trocadilho, mas que representam 2 bilhões de dólares num projeto recém lançado no mercado de entretenimento e que fecha as portas apenas alguns meses depois. QUIBI-leeeeza!
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Nessa última semana, QUIBI (versão curta para Quick Bites) anunciou que irá encerrar sua plataforma de streaming. Liderado pelo veterano de Hollywood, Jeffrey Katzenberg, e a ex-CEO da HP, Meg Whitman, o serviço foi idealizado para revolucionar o consumo de conteúdo audiovisual. Totalmente pensado para os smartphones e com episódios de no máximo 10 minutos de duração, podendo ser visto no formato horizontal ou vertical. Tudo para atrair as gerações acostumadas com Youtube ou TikTok, e ideal para assistir numa corrida de Uber, numa fila do Starbucks ou no transporte para o trabalho. Mais de um bilhão de dólares foi investido na produção de conteúdo, atraindo grandes nomes como Steven Spielberg, Guillermo del Toro, Kevin Hart, Queen Latifah e Jennifer Lopez. Mas aí, chegou um convidado inesperado para o lançamento.
Algumas semanas antes do seu lançamento no mercado, os Estados Unidos são assolados com casos crescentes de Covid e o lockdown é decretado em vários estados. Para um aplicativo de streaming com o conceito de entretenimento no trajeto fora de casa, não é uma boa notícia ter as pessoas trancadas e sem poder sair. Porém, não se pode colocar a culpa na pandemia, já que a estratégia utilizada pela companhia vinha sendo questionada por muitos. Apesar do alto investimento, nenhuma série exclusiva do Quibi se mostrou um sucesso. Eles focaram tanto no formato para celular que, durante a quarentena, não estavam disponíveis para o HE em SmartTVs ou Digital Media Players. Além disso, há uma disputa judicial sobre a tecnologia de visualização horizontal-vertical. E, é claro, um mercado de streaming com diversos serviços SVOD e o bolso dos clientes cada vez menor para tantas opções. No fim, Youtube, Twitch e Tiktok continuam os preferidos para vídeos rápidos no celular e sem o custo mensal de $8 dólares.
Em teoria, Quibi seria uma plataforma com grandes chances de encontrar o seu mercado. Conseguiram um investimento robusto, focaram nos smartphones e em formatos que falam com a nova geração, e contaram com executivos experientes com vários casos de sucesso. Jeffrey Katzenberg, por exemplo, fundou a DreamWorks junto com o Steve Spielberg. Porém, a realidade foi bem diferente. Quibi foi um teste bem caro de como pode ser o futuro do entretenimento. Talvez tenha tido o azar de ser lançado no momento errado ou com o conteúdo errado. Há no mercado, porém, uma plataforma testada por mais de 100 anos e que se mostra resiliente nos momentos difíceis. Imagine então se esses dois bilhões de dólares fossem usados para ajudar os cinemas durante a pandemia ou produzindo blockbusters para as telas do mundo todo. “Qui-Maraviiiiilha!”
Ricardo Bollier
Profissional com mais de 15 anos de experiência na indústria do entretenimento, tendo passado por empresas globais como Fox Film, Warner Bros, Dolby e D-BOX. Atua nos mercados da América Latina e Estados Unidos, juntando conteúdo, experiências e tecnologia.
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