27 Outubro 2020
Gêneros brasileiros
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Uma forma interessante de orientar a criatividade e criar com gêneros e procurar os gêneros nacionais de sucesso.
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Há quem pense que o gênero inibe a criatividade. Mas, na verdade, para um bom roteirista, o gênero incentiva a criar.
A pergunta principal para criar audiovisual nos dias de hoje é: o que meu filme ou série tem de igual e o que tem de diferente?
Um bom projeto tem algo de igual, e algo de diferente. Sempre. Algo que o público já espera e algo que inova dentro do gênero conhecido. São esses os projetos de maior sucesso.
Podemos criar com gêneros internacionais e inserir neles DNA brasileiro. Esse e o caminho da inovação. Falarei mais disso no próximo artigo.
Mas podemos também relembrar quais gêneros funcionam para o público brasileiro e criar a partir disso.
Mas quais são os gêneros audiovisuais que conquistam o público brasileiro?
A primeira resposta para essa pergunta é: no Brasil faz sucesso comédias e policial.
Excelente!
Uma primeira possibilidade de mistura: criar uma comédia policial!
Mistura de gêneros é sempre uma forma de ampliar o público e conseguir sucesso.
Tivemos poucas comédias policiais nos últimos anos, e infelizmente, não acertaram o tom. Mas o fato do bolo ter desandado, não significa que a receita nao era boa. O fato é que muito possivelmente quem conseguir criar uma grande comédia policial fará sucesso e pode criar uma franquia de vida longa.
Outra possibilidade de descobrir as fórmulas de sucesso para o conteúdo nacional e pensar quais gêneros de sucesso existem na tradição do audiovisual brasileiro. Sei que, às vezes, dá impressão que o mundo mudou completamente e que o povo não é o mesmo, que está todo conectado em redes sociais e debatendo agendas descoladas. Mas isso é impressão, ilusão de ótica de quem fica o dia inteiro nas redes sociais. Na prática a base do povo brasileiro continua com valores muito parecidos: quem estuda cultura direito sabe que mudanças culturais demoram muito para acontecer! Por isso, lembrar de grandes sucessos dos últimos 50 anos e sim, uma forma de buscar novos sucessos.
Estudar a história do cinema brasileiro para relembrar os grandes sucessos nos ajuda ter ideias para fazer sucessos hoje. Há gêneros de grandes sucesso que não fazemos faz tempo e quem relançar eles primeiro tem chance de sucesso.
Nos últimos anos nossa comédia se especializou em comédias de costumes, partindo do talento nato de humoristas e construindo tudo a partir da capacidade deles de criar a partir da realidade deles. Foi ótimo. Mas nao da para ter varios Paulo Gustavos segurando filmes praticamente sozinhos. Podemos e devemos procurar mais alternativas.
Importante reparar que desapareceu subgêneros importantes na comédia que podem e devem ser recuperados. Comédias históricas, como Carlota Joaquina, outro imenso sucesso de público da história do cinema brasileiro pode ser um ótimo caminho. Quem acertar projetos nessa linha tem um vasto filão de público a explorar.
Outro gênero de grande sucesso no Brasil e o filme espírita! Todos sabem que existe um público cativo para esse tipo de filme. Mas e uma comédia espírita? É possível? Claro. Basta lembrar de “Dona Flor e seus Dois maridos”, que era, basicamente uma pornochanchada espírita e foi por anos o maior sucesso da história do cinema brasileiro. Comédia espírita também é uma ótima aposta.
Outra possibilidade é o filme de caipira e a representação do campo. Não podemos correr o risco de ficar muito urbanos. Ainda mais em momentos de crise. Recentemente a TV Globo anunciou o interesse em fazer um remake da telenovela “ Pantanal” para os dias de hoje. Um tiro com grandes chances de sucesso. Na história da TV o Pantanal fez grande sucesso fugindo das tramas urbanas e sobre política e voltando a vida simples do campo. A novela foi lançada em outro momento de crises de valores, onde muitos começavam a perder a fé em nossa nação. Tal como vivemos hoje. Nesses momentos o público gosta de voltar a vida rural, as nossas raízes , a vida simples. Possivelmente foi , antenada com isso, que a Globo pensa em relançar pantanal. Com certeza esse filão de vida no campo da muitas histórias, em vários gêneros. Pode ser desde histórias que focam nessa simplicidade cômica de um Mazzaroppi. Mas pode também ser filmes de terror. Afinal, quem não curte uma história de terror caipira em torno da fogueira?
Os exemplos são vários. O importante é atentar para que criar com gêneros e também criar e para lembrar que existem gêneros com DNA tipicamente nacional, que podem e devem ser recuperados.
Newton Cannito
Newton Cannito é autor roteirista de séries como Unidade Básica (Universal TV), 9mm (Fox/Netflix), entre outras. Roteirista de filmes como Reza à Lenda e Broder. Foi também Secretário do Audiovisual do Minc e é coordenador do Concurso Histórias para Unir o Brasil. (www.unirobrasil.com.br)
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