28 Setembro 2020
Os Cinemas Vão Reabrir – E Agora?
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No período que comandei a operação conjunta da Fox e da Warner em Alphaville – ao lado de uma equipe excepcional, conseguimos resultados extraordinários, com lançamentos marcantes como Independence Day, Matrix, Titanic e outros – eu costumava conversar com o meu chefe Redo Farah, que supervisionava a Am Latina pelo lado da Warner. Redo, um profissional experiente e inteligente, costumava definir de forma aparentemente simples o nosso trabalho, com tiradas como “para cada sala, um filme, e para cada filme, uma sala”. Parece óbvio, e é, mas esse conceito confirma que salas precisam de conteúdo, e filmes, de salas.
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Neste momento em que os Cinemas brasileiros se esforçam para reabrir as salas e tentar reverter parte da queda de mais de 70% nos negócios em comparação ao ano passado, esse conceito parece cada vez mais atual.
Os Cinemas brasileiros ensaiam reabrir suas salas para o público depois de meses sem atividade ou faturamento.
A retomada das atividades de Exibição já ocorre em outros países, especialmente na Europa e Ásia, e avança em partes dos Estados Unidos e México, mas tem ritmo mais lento em praticamente toda a América do Sul, com 7% das salas reabertas no Brasil e praticamente nenhuma aberta na Argentina, por exemplo.
São notáveis os esforços dos Exibidores brasileiros em trabalhar para a reabertura das salas, adotando todas as medidas de segurança, distanciamento social e prevenção contra a disseminação da pandemia.
Há um grande esforço da categoria para que as salas estejam abertas e em condições de gerar uma experiencia gratificante e segura para seus frequentadores.
Porem, um fator extremamente importante está em aberto nessa equação: os filmes e demais conteúdos, especialmente dos grandes distribuidores, não estão sendo disponibilizados; pelo contrário, seguem sendo adiados para o próximo ano, ou deixados sem definição de data, o que é uma ameaça gigantesca ao setor de Exibição e ao próprio negócio de Cinema como um todo.
A mais recente a anunciar grandes adiamentos em seus principais lançamentos deste final de ano foi a Disney, e parece que ainda outros lançamentos serão adiados.
Sabemos que a produção de um filme envolve diversos compromissos artísticos, financeiros e comerciais, e que cada produção é independente de outras, feita por grupos distintos de talentos, investidores, planejadores e executores; não se pode portanto julgar que esses adiamentos sejam injustificados ou orquestrados para proteger os interesses do setor de produção e distribuição. O momento de se lançar um conteúdo audiovisual por qualquer meio exige um planejamento minucioso e um enorme compromisso, podendo gerar ganhos ou perdas importantes. Cada projeto é único, de responsabilidade de pessoas ou grupos específicos, que devem zelar para que as melhores condições estejam disponíveis à época do lançamento, e que seu esforço seja recompensado.
Porem, à medida que os produtores e distribuidores tentam, justificadamente, proteger seus interesses e assegurar que seus projetos encontrem um ambiente favorável para seu lançamento, e ao mesmo tempo as condições de abertura e funcionamento normal dos Cinemas esteja definida - sem se considerar a velocidade com que a audiência vá retomar o habito de frequentar os Cinemas -, há um descompasso que pode acarretar o fechamento de muitas salas, atingindo indistintamente Exibidores, Distribuidores, Produtores, Investidores.
Não se trata que defender que projetos sejam lançados em um ambiente de pouco potencial comercial, mas de assegurar que ao lado dos Cinemas abertos, existam também conteúdos disponíveis, de preferência com forte apelo comercial, para compor um cenário de atração do público e volta mais rápida à normalidade.
O recente caso do lançamento de Tenet, superprodução da WarnerMedia com o talento do diretor Christopher Nolan e excepcional elenco, mostrou que há espaço para produções de peso conseguirem bons resultados mesmo em um ambiente de retomada. A atitude corajosa dos envolvidos neste projeto vai gerar resultados para todos os setores, e isso conta neste momento. Distribuidores independentes estão mantendo seus calendários e suporte aos lançamentos, o que vai gerar interesse e mobilização na audiência, mas fica faltando uma parte importante da categoria, representada pelos lançamentos dos grandes distribuidores.
Sem Cinemas, desaparecem os canais onde flui a produção cinematográfica; sem filmes, não há conteúdos capazes de gerar o interesse do publico para confirmar que a experiencia inigualável do Cinema pode ser feita com segurança. Na falta de um desses elementos, perdemos todos.
Os próximos meses serão cruciais para definir o futuro do negócio de Cinema. Precisamos mais do que nunca de ações práticas, de coragem, de atitude.
Marcos Oliveira
Marcos Oliveira é Consultor Especial do setor de Produção e Distribuição de Conteúdo Audiovisual, através de sua empresa Leverá Conteúdo e Negócios, que atua em desenvolvimento de projetos, captação, distribuição e consultoria. Sua carreira profissional inclui atividades em posições de liderança em empresas como Johnson & Johnson, Twentieth Century Fox Brasil e Austrália, Warner Bros e Universal Pictures.
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