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Artigo / Audiovisual

25 Setembro 2020

Mais respeito pelo cinema brasileiro!

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Fui surpreendida com uma notícia no jornal O Globo, na última sexta-feira, em que o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, afirmava que a estatal não mais patrocinaria obras ‘de qualidade mais do que sofrível’ e para exemplificar, ele citou os filmes “Bixa Travesty” e a animação “Lasanha Assassina”. Este último, ainda em fase produção.

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Pois bem, a Petrobras não patrocinou o “Bixa Travesty”. Estranho o presidente da companhia não saber. E mais estranho ainda, é afirmar que um filme, que nem está pronto, ter ‘qualidade sofrível’.

Eu até poderia entrar no mérito do que é bom ou não, para tornar o meu discurso mais simplista e procrastinar, mais uma vez, a discussão do que realmente interessa. Parece-me que esse é o modus operandi da atual gestão, procrastinar. Ou até mesmo, eu poderia perguntar se o presidente assistiu ao primeiro filme, ou se é mera convicção.

Mas não! Eu não vou entrar nesse jogo.

Hoje eu proponho que falemos de trabalho. Em especial, do desempenho da indústria audiovisual.

Como em toda indústria, a do audiovisual não é diferente, ela é composta por empresas grandes, médias e pequenas, que têm chefes, diretores, funcionários e colaboradores. Existe uma estratégia e desenvolvimento de produto para atingir as demandas do seu público-alvo. Um filme é um produto, e logo, obedece a uma lógica de mercado.

Empresas bem-sucedidas cumprem o seu papel, que é gerar recursos financeiros para empresários, funcionários e Estado.

Nos filmes em questão, citados por Castello Branco, é fácil compreender o negócio, por isso não entraremos no mérito da qualidade, mas podemos falar do seu reconhecimento.

Para entender, os festivais de cinema são uma grande vitrine cinematográfica. É como uma grande exposição, só que de filmes. Países do mundo todo levam as suas obras para serem exibidas e vendidas para outros mercados, além de participarem das competições. O “Bixa Travesty”, por exemplo, já ganhou 22 prêmios nos festivais do Brasil e do mundo. Mérito dos muitos profissionais que fizeram o filme existir.

Nos últimos 15 anos, o Brasil realizou mais produções e coproduções do que nos 40 anos anteriores.

Orgulhosamente posso dizer que o setor do audiovisual é um dos pilares da economia criativa e responsável pelo recolhimento de mais R$ 3,3 bilhões de impostos diretos e indiretos. Se é maior retorno social que a Petrobras procura, é no audiovisual que ela vai encontrar.

A cada R$ 1,00 investido no setor, cerca de R$ 2,60 retornam ao Estado por meio de tributos. São mais de 12 mil empresas responsáveis por gerar mais de 300 mil empregos diretos e indiretos e, além disso, o audiovisual movimenta aproximadamente outros 70 setores da economia.

Esse tom desrespeitoso ao cinema brasileiro fere os milhares de trabalhadores que se esforçam diariamente para sustentar as suas casas, as suas famílias e os seus governos. É sempre importante lembrar que cidadãos financiam governos para que governos melhorem a vida da população.

Mais respeito pelo cinema brasileiro. Mandatos são finitos. O cinema não.

Simoni de Mendonça
Simoni de Mendonça

Publicitária e empresária de produção audiovisual. Estudou Formação do Mercado Cinematográfico e Audiovisual na escola francesa ESRA. Há mais de 20 anos atua na área de entretenimento e cultura tendo lançado mais de 18 curtas-metragens, todos reconhecidos e premiados nos principais festivais de cinema. É presidente do SIAESP - Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo.

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