22 Setembro 2020
Distribuidores e Exibidores precisam discutir a relação
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A reabertura das salas de cinema já começou, mas tudo indica que essa retomada será mais lenta do que o previsto. Além da dificuldade em trazer a audiência de volta à sombra do coronavírus, temos os desafios específicos do segmento.
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Um fator básico é a disponibilidade da renda das pessoas, que obviamente será escassa por um tempo. Para boa parte da audiência, ir ao cinema é parte de uma programação maior, como jantar fora, por exemplo. Os cinéfilos fidelizados têm maior probabilidade de focar apenas no cinema, mas a proibição do consumo da pipoca e de outras guloseimas, é outro desafio, já que os cinemas lucram mais com bomboniere do que com a venda de ingressos.
Apesar das incertezas, alguns filmes ainda estão em vias de aportar nos cinemas, mas o COVID-19 limpou o calendário de lançamentos para os próximos meses, criando uma situação em que os estúdios focam no próprio negócio em detrimento da indústria como um todo. A aposta com “Tenet”, não foi necessariamente um sucesso, mas deu um alento aos Exibidores internacionais, que tiveram um blockbuster em sua programação. Vamos ver como será aqui no Brasil.
É fácil concluir que os distribuidores detêm muito poder na indústria cinematográfica, mas qual é o foco das distribuidoras enquanto vivenciam a crise atual?
As distribuidoras decidem os cronogramas de lançamentos dos filmes para os cinemas, home vídeo e streaming, e são responsáveis pelo marketing e promoções ao público para esses lançamentos. Isso significa poder para determinar quais filmes serão produzidos e exibidos em primeiro lugar. As Majors, naturalmente, tendem a ser extremamente refratárias ao risco, e uma indicação disto são os intermináveis filmes de franquias, sequências e remakes na última década. As grandes distribuidoras preferem financiar produções que tenham base em fontes altamente comercializáveis ou renomados talentos.
A conclusão é que o foco de curto prazo para as principais distribuidoras será administrar os riscos e as oportunidades de lançar, ou não, filmes nos cinemas, pois mesmo antes da pandemia, elas pressionavam para diminuir a janela de exibição e, o vírus tornou esse impulso ainda mais forte. A exibição de filmes nas salas de cinemas ainda é uma parte importante da receita das distribuidoras, portanto não é tão simples mudar os lançamentos para streaming, pois não renderia nada perto do valor que um lançamento em cinema pode trazer.
Mais uma vez ouvimos as afirmações de que as salas de cinema estão destinadas a declinar com o tempo, com ou sem o vírus, mas mudanças na forma de atrair a audiência de volta, já estão aflorando, com experiências inovadoras além do conteúdo cinematográfico.
A exibição de filmes como um todo sempre foi um negócio surpreendentemente resistente e sobreviveu a pandemias, depressões e mudanças tecnológicas no passado. O desejo de ver filmes na noite de estreia com uma multidão e de fazer parte de uma conversa cultural ainda persiste, e acredito num ressurgimento na ida ao cinema quando as pessoas se sentirem seguras para se misturar em público novamente.
Independentemente do que aconteça com o vírus, os exibidores serão forçados a encontrar novas maneiras de tornar a experiência de ir ao cinema, cada vez mais atraente. As salas de cinema não vão desaparecer, mas poderão ser muito diferentes.
Agora é mandatório, além de entreter, informar e surpreender o espectador. Talvez a parte mais simples, mas não a de menor investimento, seja a adequação tecnológica para tornar a decisão do espectador em retornar às salas de cinema, mais confortável e natural, num ambiente que o surpreenda ao mesmo tempo que o informe sobre todo o esforço desprendido para tornar o ambiente seguro e de acordo às suas expectativas.
O sucesso do exibidor ainda estará atrelado às ações das distribuidoras por um longo período, mas o romantismo do passado, onde um não vivia sem o outro acabou. Acredito que cada vez mais presenciaremos momentos de individualidades nocivas ao “casamento”, conforme necessidades corporativas de parte a parte. Vida que segue e nada mais natural, desde que as partes se preparem para o que está por vir.
Luiz Fernando Morau | morau@integradora.digital
Profissional sênior em infraestrutura, desenvolvimento e integração de soluções no audiovisual, digital cinema, broadcast, games, VR, AR e digital signage. Sócio e CEO da INTEGRADORA DIGITAL
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