21 Setembro 2020
Conteúdo: A nova corrida do ouro
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Vivemos uma imensa revolução. E, como sempre acontece nesses momentos, surgem novos impérios a partir do nada enquanto outros, abrem falência.
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Nessas horas a palavra chave é inovação. Temos todos que ficar antenados para dar o tiro certo e orientar nossas energias para tendências de sucesso.
Ao mesmo tempo que as salas de cinema continuam fechadas, o mercado de streaming cresce como nunca. Isso mostra que podemos mudar as janelas de exibição, mas o fato é que existe cada vez mais demanda para o bom conteúdo. Sempre haverá espaço para os bons filmes e séries.
Hoje os grandes players estão investindo pesado pois sabem que, quem fidelizar o público agora, será hegemônico por muitos anos. O desafio é imenso e temos praticamente tudo a ser feito. Do ponto de vista do usuário Amazon, Netflix, Globoplay são imensas vídeo locadoras virtuais que precisam preencher suas prateleiras com produtos para todos os públicos. Mas essas empresas, com toda razão, ambicionam muito mais. Elas querem ter a propriedade intelectual de grandes sucessos que fidelizam sua audiência.
Isso tudo evidencia a importância estratégica de focar os investimentos nos conteúdos e na tentativa de criar propriedades intelectuais. Pode ser que mude a forma como os filmes e séries serão exibidos Mas a necessidade de ter bons conteúdos só aumenta. E, pela primeira vez na história, um bom conteúdo de país periférico pode alcançar sucesso mundial e virar uma franquia internacional.
Essas grandes revoluções acontecem quando surgem novas mídias, que permitem novos modelos de negócio. A invenção da Imprensa de Gutemberg e o cinema foram duas revoluções parecidas. Ambas as tecnologias também fizeram revoluções conceituais, incentivando a entrada na era moderna. Nesses momentos muitas empresas morrem, mas surgem novas potências.
Vivemos uma nova corrida do ouro . E o ouro são os filmes e as séries.
Esse ouro , no entanto, não se encontra cavando a terra. Agora, o ouro verdadeiro e um ouro que nós criamos. Isso muda tudo.E por isso que, nos dias de hoje, a capacidade de gerenciar a criatividade e o maior ativo de uma empresa. E a boa gestão da criatividade que permitirá o surgimento de boas obras em série, como episódios bons de uma série, como showrunners que tocam simultaneamente várias séries (Dick Wolf, Ryan Murphy, Shonda Rhimes, entre outros) se tornando algo parecido ao que era Selznick e Thalberg nos anos áureas de Hollywood. Ou seja, verdadeiros chefes criativos de estudios.
A corrida do ouro agora é a corrida de qual empresa conseguirá ter os grupos criativos mais afinados, aqueles que realmente realizam sucessos em série. E mais que uma corrida pelo ouro, e uma corrida pela “galinha dos ovos de ouro”. Ou seja, não é uma corrida por um metal, e uma corrida por talentos criativos que consigam fazer a alquimia de transformar uma história (uma fábula, uma imaginação) em riqueza real (o ouro).
Os exemplos são muitos. A Fox cresceu sustentada pelo imenso sucesso dos Simpsons.
Se uma Produtora de Conteúdo brasileira acertar três produtos em sequência irá se tornar um império internacional da área de dramaturgia. Isso já aconteceu com empresas de Formato, como Endemol, 4 cabeças e outras. Mas agora, a tendência é surgir novos estúdios criativos, que saberão também gerenciar a criatividade na área de dramaturgia.
Novos e grandes players irão surgir. Grandes empresas que vem da área editorial podem se tornar grandes produtoras de conteúdo audiovisual. Agências de publicidade também podem entrar no jogo e usar da vantagem de já serem empresas especializadas em pesquisa e criação. Claro que, se quiserem entrar no ramo de conteúdo, terão que dar real poder a criativos que não sejam viciados nas antigas técnicas de publicidade. Mas, se tiverem essa coragem, também tem potencial de se tornarem grandes produtoras de conteúdo. Pois são empresas que tem capacidade de investimento, conhecimento do mercado e entendem de gestão da criatividade.
Mas, para além das grandes empresas, existe muito espaço para os pequenos. Estamos em uma corrida do ouro e, nessas corridas, os aventureiros tem chances reais de alcançar o sucesso. Temos que manter aceso esse ímpeto aventureiro do criativo brasileiro. Alguns exemplos já existem: um pequeno grupo de jovens cria um canal de humor na internet. O sucesso faz eles virarem uma linha de produtos. Se conseguem crescer e manter o sucesso, pode se tornar um império. Conseguirão? Tivemos alguns casos desse na internet dos últimos anos. O mais famoso e” Porta dos Fundos”. Tem também o caso de Felipe Neto: um jovem youtuber ganha fama de contestador. Depois de uma crise, se reinventa e passa a atuar, simultaneamente, na produção de conteúdos para a infância e no debate político. Ele começa a entrar em dramaturgia e, ao lado do irmão, lança até uma franquia de filmes infantis. Ou Danilo Gentili, que depois do stand up começou a criar uma linha de filmes que dialoga com seus fãs e seu público alvo.
Esses são pequenos grupos, que podem gerar linhas de produto, sempre em diálogo com o público que eles já conhecem. Como podemos ver a criatividade atual e sempre gerada em dialogo com o publico.
Mas, ao falar do youtubers, ainda estamos restritos a talentos que são também performances ou atores. Algo ótimo, mas ainda é pouco.
O próximo passo é fazer grupos criativos de escritores. Não digo, nem roteirista, digo escritores mesmo. Roteirista e uma das especialidades da escrita, mas uma empresa dessa pode e deve focar na escrita em geral.
Hoje em dia é razoável imaginar que um grupo de escritores fora dos EUA crie uma empresa criativa como a Marvel ou a Dc Comics. Diante da evidente demanda por filmes de super herói é algo que tem boas possibilidades de acontecer nos próximos anos. Seja no Brasil, seja em outro país. Isso é bem maior que criar uma série. Ou um filme. Ou um canal. E criar um universo inteiro de produtos que geram licenciamento. Não precisa muito para isso. Só algum investimento em manter uma equipe criativa por uns anos e ter uma ação inteligente de mídia. Com certeza é mais barato que investir em uma única produção e pode dar resultados muito maiores.
E claro que, o difícil é esse universo realmente conquistar o público. Isso é difícil. A verdade é que o Investimento em indústria criativa e sempre um investimento de alto risco. Mas estamos numa corrida do ouro. Você quer entrar?
Por fim, podemos e devemos tentar minimizar os riscos no investimento em desenvolvimento. Para isso precisamos conversar mais sobre Gestão da Criatividade, que ajuda a pensar formas de criar produtos criativos que conquistem o público. Basta dar um exemplo: uma produtora como a Pixar jamais errou um filme. Isso pode ser coincidência? Não e. E apenas o resultado das formas de gestão da criatividade que a empresa trabalha. Mas vamos deixar essa reflexão para os próximos artigos.
Newton Cannito
Newton Cannito é autor roteirista de séries como Unidade Básica (Universal TV), 9mm (Fox/Netflix), entre outras. Roteirista de filmes como Reza à Lenda e Broder. Foi também Secretário do Audiovisual do Minc e é coordenador do Concurso Histórias para Unir o Brasil. (www.unirobrasil.com.br)
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