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Artigo / Público

24 Agosto 2020

O envelhecimento da população mundial e o público de cinema

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Estamos vivendo mais. Nosso corpo tem durado mais tempo sobre a terra. O acesso à medicina cada vez mais preventiva e uma maior consciência da importância de uma alimentação saudável, nos faz "ganhar" uma sobrevida. A longevidade é hoje um ponto importante a ser analisado em vários segmentos. De que forma devemos nos preparar para atender os clientes mais velhos, um público mais exigente, preparar nossos conteúdos e salas de cinema, levando este fato em conta?

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Na pós-graduação que faço na PUC-Rio, um colega oncologista informou durante uma aula de Inteligência Artificial que existe um “chavão” na medicina que diz: "você não enxerga o que você vê, você enxerga o que você conhece. E isso vale para reflexão em dois sentidos:  1) você precisa conhecer cada vez mais; 2 ) você sempre é limitado pelo seu conhecimento". Bingo: desafios constantes, aprendizado constante ! Na medicina é assim, mas em outros segmentos também. Vejamos o que diz Millôr Fernandes em um pensamento semelhante: "o mal da cultura é que ela amplia gigantemente a nossa ignorância".

Vivemos mais e precisamos pensar em formas de entreter, oferecer alternativas para o bem-estar das pessoas nesta faixa etária, assim como criar vagas na indústria que absorvam profissionais mais velhos.

Durante boa parte da nossa história, a maioria da população foi formada por jovens. Até a década de 80, a população brasileira tinha o aspecto de uma pirâmide: muito mais jovens na base do que idosos no topo. As projeções do IBGE para 2060 indicam que começaremos a ver uma pirâmide etária invertida , ou seja, mais idosos no topo.

Vários países já apresentam taxas de crescimento populacional baixíssimas. Atualmente, a taxa média mundial de crescimento da população idosa é de 1,9% ao ano, maior que a do crescimento da população em geral, que é de 1,17%.

De fato, o envelhecimento populacional é um fenômeno que ocorre em escala global, em especial nos países desenvolvidos. As expectativas de vida mais elevadas estão assim analisadas: Japão (82,4 anos), Islândia (81,6 anos), Suíça (81,4 anos), França (81,4 anos), Itália (81 anos), Austrália (81 anos), Suécia (80,7 anos), Canadá (80,4 anos). Por aqui, dados do IBGE de 2018 afirmam que nosso índice aumentou para 76,3 anos. A China, maior parque exibidor do mundo, com mais de 60 mil salas, tem um percentual médio da expectativa de vida de sua população parecida com a do Brasil - 76,4 (dados de 2017). E neste caso, estamos falando de uma população de 1,38 bilhão de pessoas. As salas estão pensadas para receber o volume e o perfil do público idoso? O espaço acessível e confortável parece que precisa ser um ponto de atenção importante para os próximos anos.

Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1950 existiam 250 milhões de indivíduos com mais de 60 anos no planeta. Esse número quase triplicou  no ano 2000, somando 606 milhões de pessoas.

Como sabemos, o continente que possui o maior número de idosos em relação à população total é a Europa. Em 2009, os habitantes europeus, com idade superior a 60 anos, correspondiam a 20% da população total do continente. Estima-se que essa população atinja 37% até 2050. Na Itália, por exemplo, a pirâmide etária possui o topo mais largo que a base, ou seja, o número de habitantes com idade superior a 60 anos é maior que a população composta por jovens.

Voltando um pouco no tempo, em 1940 a expectativa de vida dos brasileiros ao nascer era de apenas 45,6 anos, ou seja, os brasileiros hoje vivem, em média, 30,8 anos a mais do que em meados do século passado.

Em matéria, apresentando um resultado de pesquisa realizada pelo IBGE, o Jornal Nacional (TV Globo) de maio de 2019, diz em um trecho: "O Brasil não tem experiência em ser um país de pessoas experientes".

Um pensamento que devemos considerar neste cenário é que um modelo passado não serve para prever modelos futuros. Não estamos falando de determinismo. Ainda mais se considerarmos que o cliente, o espectador está mudando bastante rápido, envelhecendo. E que portanto, precisamos pensar novos caminhos para distribuição, divulgação e produção de conteúdos. O que pessoas "experientes" querem ver? Vale ouvi-las!

Cris Cunha
Cris Cunha

Executiva com mais 20 anos de experiência na liderança de marketing de distribuição de filmes nacionais e estrangeiros. Esteve ligada ao lançamento, à estratégia e à distribuição de diversos longas, como: Cidade de Deus, A Vida é Bela, Madame Satã, Olga, Minha Mãe é Uma Peça, De pernas Pro Ar, Chico Xavier, Estômago, Todo Mundo em Pânico, entre outros. A partir de 2017, iniciou atividades ligadas à coordenação de lançamento de filmes - planejamento estratégico da campanha - e à realização de pesquisa de produto (quantitativa e qualitativa) para o segmento audiovisual.

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