20 Agosto 2020
Todas as janelas focadas no mercado asiático
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Acredito que estamos cientes do momento atual, das reinvenções do audiovisual, tanto no que compete as novas propostas para retomada das produções, quanto, aos novos modelos de distribuição (como antecipação do VOD e cine drive-ins), adiamentos e alterações nos horários da indústria cinematográfica; resultando numa adaptação do mercado como um todo. Porém, um público que produtores, exibidores e distribuidores brasileiros precisam conhecer com mais profundidade, é sem dúvida alguma o asiático.
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Existe um termo que a sociedade japonesa usa que é o Wabi Sabi, que expressa o conceito da beleza cotidiana mesmo diante das imperfeições diárias e aceitar, pacificamente, o ciclo natural de todas as coisas. A leveza desta palavra consiste que mesmo diante da pandemia, podemos desacelerar e focar em itens que não havíamos observados antes, e agora, podemos avaliar com mais afinco.
Só para ter uma ideia do contexto demográfico e de alcance, a área que corresponde a Ásia é de aproximadamente 44 milhões de quilômetros quadrados, dividida entre 50 países. Em todo esse espaço, estima-se que vivam cerca de 4 bilhões de pessoas, número esse que corresponde a mais de 50% da população mundial.
Consumir conteúdo indiano, coreano, árabe e de outros países, permitem ter o primeiro contato a distância com este perfil de audiência. E endosso aqui uma frase que que serve para todos, dita pelo cineasta Bong Joon Ho ao ganhar o Globo de Ouro, com o longa ‘Parasita’, que foi também o maior vencedor da Oscar neste ano: “Quando vocês superarem as barreiras de filmes com legendas, conhecerão muitos filmes incríveis”.
Ou seja, antes de embarcar com o teu filme para o outro lado do Atlântico, conheça os países que fazem parte deste bloco, suas informações socioculturais e quais projetos possuem identificação dentro de cada comunidade. O ponto focal é compreender que as negociações e ofertas para o mercado internacional, nitidamente exigem suas adaptações, mas também são necessárias para incitar no público, o desejo por novas produções cinematográficas.
Começando com a janela cinema, podemos pegar como exemplo o Japão, terceiro maior mercado do cinema mundial em termos de bilheteria, que já está com a sua reabertura dos cinemas praticamente concluída.
As duas grandes redes de cinema Toho Cinema e Shochiku Corporation, adotaram novas políticas sanitárias, como o uso obrigatório de máscaras pelos funcionários, equipamentos para limpeza de mãos na entrada das salas e espaçamento entre os assentos para manter o distanciamento social, além de ”contactless”/ “untact”, ou seja, em que não há contato algum com estranhos. Os grandes blockbusters ainda estão sem data de lançamento no país, o que permite uma brecha de inclusão de filmes médios e estrangeiros independentes em suas grades de programação. Este é um bom exemplo de nicho que têm uma boa recepção com conteúdo e produções Latino-americanas, mais precisamente o Brasil.
A distribuição global permite analisar player por player, cada oportunidade, por isso outra janela/mídia que esta com tudo do outro lado do oceano, são os canais de TV. O relatório divulgado pela Broadcast Audience Research Council (BARC) e Nielsen Group da Índia, sobre o impacto do COVID-19 no comportamento da televisão e da mídia digital no país, mostra que houve um aumento 6% de audiência, com grande interesse da população indiana que corresponde a cerca de 1,3 bilhão de telespectadores, por conteúdo infantil e por filmes, atrás somente de programas jornalísticos.
Mesmo com o fechamento temporário dos cinemas no sudoeste asiático, países como Malásia, Filipinas, Indonésia, Tailândia e Cingapura viram aumentar em 60% o tempo gasto da população com mobile, sendo que a procura destes quase 8 milhões de usuários, são em filmes, programas de entretenimento e novamente, conteúdo infantil. Que poderão gerar até o final deste ano cerca de US$ 400 milhões aos players e investidores em publicidade direcionada, de acordo com a pesquisa realizada pela Media Partners Asia (MPA). No setor de SVOD e VOD, todos os países que fazem parte do bloco asiático estão vendo a cada dia o nascimento de novas empresas de streamig, e os números de plataformas como: Amazon, Netflix, Hulu, Viu, iflix, Tencent Video, Mango TV, Bilibili e iQiyi vem aumentando consideravelmente suas bases de clientes e consumo.
Entre os gêneros de filmes mais desejados e assistidos foram comédia, romance, familiar e longas clássicos.
Outra janela interessante para colocar no radar de negociação, refere-se ao setor de TV por assinatura Ásia-Pacífico, que é um dos mais otimistas do mundo no momento, com previsão de aumento de assinantes em 45 milhões e receita em US $ 1,40 bilhão nos próximos cinco anos.
Ao mesmo tempo, de acordo com a Digital TV Research, a permanecia e impacto da TV paga permanecerá em torno de 69%. China e Índia juntas representarão 80% dos 676 milhões de assinantes de TV paga da região até 2025.
Os dados acima, apenas refletem que a distribuição adaptada, bem direcionada e com sintonia com o público é um dos modelos mais assertivos atualmente. Vale ressaltar aqui, que não retrato detalhes técnicos (legenda e ou termos locais), bem como questões legais (classificação indicativa), porque cada país possui suas questões. Caberá aos sales agents e distribuidores, compreenderem quais produções possuem um apelo de interesse para o mercado em questão. E aos exibidores, fica a sugestão para utilizarem destes novos recursos tecnológicos para a retomada dos cinemas aqui no Brasil.
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Ki wo tsukete!
Guilherme Mendes Ayala
CEO da Dodô Filmes. Formado em Propaganda e Publicidade, o executivo é colunista no The Huffington Post Brasil. Foi Gerente de Marketing na O2 Filmes, atuou como Coordenador de Comunicação e Marketing na PlayArte Pictures. Esteve por mais de 6 anos à frente dos veículos Alpha FM, 89 FM e Revista Exclusive, como Chefe de Redação.
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