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Artigo / Distribuição

18 Agosto 2020

Ahhh as janelas....

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O recente acordo entre a Universal e a rede de cinemas AMC prevê que a distribuidora poderá disponibilizar seus conteúdos no streaming 17 dias após o lançamento nos Cinemas. Pelo que se sabe, a AMC terá participação nas receitas a serem obtidas pela distribuidora nessa nova modalidade – PVOD- e passou de crítica recente à redução das janelas a defensora do novo modelo.

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Entre outras questões, está em jogo um movimento que se iniciou há muito tempo; o da redução das janelas entre Cinema e as demais mídias.

Segundo relatório publicado recentemente pela Gower Street, especializada em análises do mercado exibidor, as janelas, de 170 dias em média no ano 2000, fecharam 2019 em 92 dias. Esta redução não é, portanto, um movimento inédito.

Com produções de qualidade prontas para estrear, os estúdios começam a antecipar os lançamentos originalmente planejados para o Cinema, exibindo-os diretamente em serviços de streaming. Desta forma, conseguem maximizar os investimentos em propaganda e promoção de seus lançamentos. As distribuidoras alegam que a menor distância entre o lançamento nos Cinemas e as demais mídias pode permitir que mais recursos sejam investidos, especialmente nas produções de maior apelo comercial, que trazem consigo negócios importantes nas áreas de licenciamento e na criação e manutenção de franquias.

Por seu lado, os Cinemas tentam manter a primazia do lançamento em suas salas, justificando os pesados investimentos em salas, poltronas, equipamentos de som e imagem, serviços diferenciados, entre outros, e creditam às janelas mais espaçadas uma das razões para manter o interesse do público.

Fica claro que embora vendam o mesmo produto para as mesmas pessoas, distribuidores e exibidores vivem momentos diferentes e por vezes conflitantes.

Alguns pontos entram na expectativa do que virá a seguir: as empresas distribuidoras avaliam os benefícios de uma relação mais direta com seus consumidores – ação realizada com eficiência pelas empresas de ponta no streaming, como Netflix e Disney+ - , enquanto os Cinemas trabalham e investem na “ experiencia” cada vez mais gratificante para seus frequentadores, através da oferta de qualidade inigualável em som, imagem, conforto, comodidades e acessibilidade, e no aumento das opções de lazer que oferecem, com jogos, games e outras atividades.

O consumidor, por seu lado, passa a ter mais opções, o que pode gerar mais negócios em termos de consumo de entretenimento audiovisual como um todo.

Enquanto não são definidas na prática as ações que cada empresa exibidora ou distribuidora irá tomar, fica evidente que mudanças estão acontecendo, derivadas do crescimento da importância do segmento de VOD, e os exibidores de Cinema terão que se adequar a algum tipo de redução entre as exibições.

O futuro muito breve dirá como o mercado vai se comportar. A Disney anuncia o lançamento da mega produção Mulan no PVOD norte-americano no próximo dia 3 de setembro, e esse será um teste importante para avaliarmos a reação do público e dos demais participantes do mercado a um lançamento dessa magnitude diretamente no streaming.

A redução das janelas significa desafios para a indústria, e em especial para a Exibição, mas pode também trazer oportunidades para que novos conteúdos sejam incorporados à programação dos Cinemas e novas formas de parceria com produtores de conteúdo possam acontecer. A “experiencia” de uma ida ao Cinema, que transcende o ato de simplesmente assistir a filmes e outros conteúdos, pode se expandir para a exibição de séries, shows e eventos esportivos e culturais. 

Essa equação está agora, mais do que nunca, em cima da mesa, para que novos caminhos sejam tentados e novas alternativas implementadas.

Vivemos um tempo único, de mudanças e alternativas, e as empresas devem avaliar e implementar formas de manter e expandir seus negócios num ambiente altamente volátil e impreciso.

Para quem acredita que a evolução é permanente, não há momento melhor e mais desafiador para estar nesse nosso mercado!

Marcos Oliveira
Marcos Oliveira

Marcos Oliveira é Consultor Especial do setor de Produção e Distribuição de Conteúdo Audiovisual, através de sua empresa Leverá Conteúdo e Negócios, que atua em desenvolvimento de projetos, captação, distribuição e consultoria. Sua carreira profissional inclui atividades em posições de liderança em empresas como Johnson & Johnson, Twentieth Century Fox Brasil e Austrália, Warner Bros e Universal Pictures.

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