Exibidor

Publicidade

Artigo / Produção

07 Agosto 2020

Cabeça de televisão ou cauda de streaming?

Compartilhe:

A pandemia de covid-19 paralisou as salas de cinema -- e isso não é novidade. Desde março, profissionais do setor discutem acirradamente o futuro do cinema e do audiovisual após o término da crise sanitária. O vírus, contudo, não trouxe apenas um prejuízo financeiro sem precedentes. Ele também está ajudando a consolidar uma mudança de hábito de consumo já que, sem poder sair às ruas, o público tem se dedicado cada vez mais ao home video. Poderia ser, portanto, um momento auspicioso para televisão aberta e paga no Brasil. Mas não é exatamente isso o que vem acontecendo. 

Publicidade fechar X

Pesquisa realizada pelo Ibope Kantar, em junho deste ano, mostra que no horário comercial (das 7h às 0h) a audiência média das principais plataformas de streaming no país (Netflix, Globoplay e Amazon Prime) foi de 7%. Tal resultado coloca o SVOD à frente das principais emissoras de TV abertas brasileiras. O futuro já começou e canais como Record, SBT e Band precisarão resolver rapidamente como enfrentarão o tsunami do conteúdo por escolha, com dia e hora marcados pelo espectador.

Em live realizada, em julho, para o projeto Globo Universidade, Erick Bretas, diretor da Globoplay, informou que o grupo da família Marinho decidiu investir de vez em streaming após constatar que seus principais concorrentes não eram mais os canais abertos locais, mas as plataformas internacionais. Não por acaso, a visão estratégica do mercado audiovisual do grupo fez com que a Rede Globo seguisse líder de audiência no país, ficando com 15% da atenção dos espectadores em junho, segundo o Ibope.

O cenário para as TVs pagas no Brasil não é menos desafiador. A própria Globo, por meio da Globosat, tem migrado cada vez mais o conteúdo de seus canais pagos para as plataformas de streaming como forma de garantir a audiência de produções como a do Multishow e a da GNT. Pesquisa da revista Variety informa que a Netflix atingiu 70 milhões de assinantes somente nos Estados Unidos, enquanto todas as operadoras de TV paga do país somam pouco mais de 77 milhões de assinantes. No Brasil, segundo pesquisa da Anatel a base de assinante da TV paga está em 15,5 milhões de assinantes e apresentando quedas constantes no setor desde 2015. 

A agência registrou um encolhimento da TV paga da ordem de 10% entre maio de 2019 e maio de 2020. A base atual de assinantes é de 15,2 milhões, o que leva menos de 22% dos domicílios do país a terem acesso a canais por assinatura. 

Enquanto a audiência das TVs despenca e as plataformas de streaming estrangeiras mostram seus dentes, as emissoras brasileiras terão que correr atrás de um futuro que já chegou. É a velha decisão entre ser “cabeça de sardinha ou cauda de tubarão”. O Grupo Globo já decidiu. Custa saber se terá fôlego para nadar nesse oceano sangrento que até o final deste ano deverá também contar com a presença da Disney+ por aqui. Já as demais empresas locais, se não forem ligeiras, podem virar cauda de sardinha ou a comida dos tubarões. 

Márcio Rodrigo
Márcio Rodrigo | marcio.ribeiro@espm.br

Professor do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM-SP, doutor em Comunicação e Artes pela UNESP e jornalista.

Compartilhe: