31 Julho 2020
Eventos e festivais internacionais – presencial ou virtual?
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Um dos segmentos mais afetados pelo COVID-19 em 2020 foi o de eventos, feiras e mercados, cuja premissa inicial é aglomeração. Muitas pessoas assistindo juntas palestras, filmes ou se encontrando para fazer negócios.
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Frequento eventos de audiovisual desde 2005 e devo dizer que é um dos momentos do ano que mais gosto. Sair da sua casa e sua cidade e encontrar pessoas do mundo todo com um só objetivo é transformador. Durante poucos dias você experimenta culturas diversas, aprende um pouco de cada mercado e volta com novas ideias, aliás muitas. Nunca foquei em palestras pois acredito que o verdadeiro valor, as tendências e a inovação estão nas conversas individuais e quando esse conteúdo é formalizado numa palestra é porque a tendência já é clara para todos e deixa de ser uma real oportunidade.
No mercado internacional do audiovisual formamos uma comunidade. Somos amigos que se veem duas a três vezes por ano (às vezes mais), acompanhamos a vida pessoal e a carreira de cada um e confiamos um nos outros. Tenho amigos queridos que moram na Holanda, nos Estados Unidos, em Israel e na França. Quando comecei no audiovisual, uma dessas amigas me disse: “Você vai levar uns dez anos para se estabelecer”. No auge dos meus 28 anos achei aquilo descabido. Pensei: “Dez anos é tempo demais!”. Mas hoje vejo que ela estava certa. Para ser reconhecida e ganhar a confiança das pessoas no mercado internacional, demora e muito. São muitos profissionais que entram no mercado, frequentam um ou dois eventos e desaparecem. Esse é um mercado baseado em constância e confiança.
O último evento internacional que fui foi em Berlim, no meio de fevereiro, logo antes da pandemia. Lembro que meu marido, que é médico, me trouxe um par de máscaras e pediu cautela. Algumas semanas depois, aeroportos fechados, lockdown e o pânico instaurado.
Inicialmente, eventos cancelados ou postergados. A seguir, diversos eventos virtuais. Obrigada, Zoom!
Participamos de três eventos diferentes. O mercado de coprodução Docaviv International Documentary Film Festival, Festival de Cannes e Sunny Side of the Doc. E não é que funcionou super bem! Saímos com dois projetos em negociação de coprodução e diversas vendas.
Quem me conhece já sabe que não sou fã de “small talk” (né, Vitor Knijnik?) e começo a reunião já dizendo objetivo e pauta. A migração de eventos para o virtual é um sonho se tornando realidade para os fãs da eficiência. Não há necessidade de viajar para o outro lado do mundo, horas de fuso horário, se perder nos stands de Cannes ou mesmo ficar parada esperando a van passar.
Funciona e funciona extremamente bem!
Porém, devo admitir que uma parte importante não está contemplada neste modelo. A beleza do “acaso”. Quando você efetivamente se desloca para um evento em outra cidade, não são somente as reuniões agendadas que trazem valor efetivo, mas sim, o acaso. Os encontros sem querer numa fila, no elevador, no corredor. E desse acaso já saíram diversos negócios!
Além desse fator, ainda teremos meses de cuidado com o COVID-19 e diversos países em situação tensa, e fronteiras fechadas a nós como Brasil e Estados Unidos.
O modelo adotado pelo MIPCOM nesse cenário me parece extremamente acertado com um misto de presencial e virtual. Acredito que mesmo após vencido o COVID-19, ele deva se manter ampliando assim as possibilidades de escolha e viabilizando também a participação daqueles que não podem arcar com uma viagem em euros ou com os dias fora, ou preferem não viajar.
Devo admitir que saudades de abraços europeus, americanos, chineses, indianos!
Que saudades!
Sabrina Nudeliman
CEO da Elo Company. Formada em administração de empresas na FEA-USP e Florida International University (International Business), possui cinco anos de experiência na Consultoria McKinsey & Company e dois anos como líder de comunicação e marketing - Ink Group e Edelman Group. A executiva foi homenageada no Rio Content Market 2016 e já ministrou diversas palestras e aulas no Brasil e no exterior, entre elas, no Festival de Cinema de Cannes.
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