24 Julho 2020
Futuro do mercado audiovisual e dos desafios do setor com a flexibilização social
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Assim como acontece com diversos setores produtivos da nossa sociedade, o audiovisual sofre também com o isolamento social, decorrente da pandemia da Covid-19. O setor não compõe o grupo de serviços essenciais; por isso, foi decretado o fechamento dos espaços de exibição e o congelamento dos processos de produção e gravação de diversos projetos.
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Nos últimos 20 anos, o mercado cresceu muito, inclusive na perspectiva histórica. Nunca se produziu tanto no Brasil, mesmo frente aos constantes ataques que o setor vem sofrendo desde 2018. Ainda não temos dados suficientes para atestar o tamanho do impacto, mas sabemos que chegamos no ápice com a crise da pandemia que estamos vivendo.
A situação é preocupante. Os espaços de exibição comerciais são os que mais sofrem, afinal dependem da bilheteria e, no momento, não temos uma perspectiva clara de quando as portas voltarão a abrir para os espectadores. Muitos devem fechar suas portas definitivamente, se não forem pensadas soluções em curto prazo para a sustentabilidade de emergência desses espaços. Algumas propostas são bem-vindas, como o retorno dos drive-in, que podem auxiliar neste momento, apesar de ser uma estratégia ainda distante do ideal no que se refere à abrangência de públicos que essa possibilidade permite. Outras salas estão aventurando-se nos sistemas de Video On Demand (VOD), e ainda algumas estão programando lançamentos. Todas essas medidas devem ser provisórias e de emergência, mas talvez apontem novos caminhos complementares para o futuro desses espaços.
Não sabemos ao certo como o retorno às salas acontecerão, afinal não depende somente dos esforços dos exibidores, mas também do modo como o público irá encarar esse retorno. Ainda assim, podemos contar que o cinema, como evento social, deve sobreviver e retornar às atividades futuramente. Antecipam-se aqueles que decretam o fim da experiência da exibição coletiva de filmes. O cinema já teve sua morte decretada a cada tecnologia que surgiu, apostando na mudança nos costumes das pessoas. A verdade é que ainda nada surgiu para substituir ou tornar obsoleta a ida ao cinema como evento social. Talvez, até mesmo após o isolamento social, a experiência de ir ao cinema seja mais valorizada.
Olhando pelo lado da produção, estamos aprendendo com a atual situação que a aproximação das pessoas por meio das narrativas audiovisuais nunca foi tão intensa. Tivemos nesse período a explosão de acessos e adesões a sistemas de VOD. Os já existentes cresceram bastante, e os mais novos começaram a ganhar corpo, além de muitos novos sistemas especializados que surgiram, com curadorias muito interessantes, para preencher a lacuna dos nichos da produção audiovisual.
É esperado, portanto, que a produção de novas obras audiovisuais se intensifique, e que nosso mercado brasileiro continue em crescimento. Em longo prazo, no entanto, precisa-se ficar atento aos movimentos dos órgãos oficiais em dois pontos: a manutenção dos incentivos à produção nacional e independente e a regulamentação dos serviços de VOD, em que se pode também encontrar espaço para intensificar o incentivo a esse tipo de produção. É importante a união de esforços para não desperdiçar o que foi conquistado, e que possamos continuar crescendo, o que sem sombra de dúvidas será bom para todos os campos do segmento da produção audiovisual.
Em curto prazo, as produtoras e as escolas de audiovisual vêm pensando em como podem retomar suas produções frente ao movimento de flexibilização do isolamento social. Por exemplo: caminhos como o uso de equipamentos específicos de segurança em set de filmagem, redução dos tempos de gravação, cuidados com catering e transporte da equipe e cuidados especiais com as atrizes e atores, que ficarão mais expostos. Com isso, a produção irá retornando aos poucos, no caso das obras que envolvem captação.
No caso das obras animadas, que hoje representam uma parcela de boa visibilidade da produção nacional, a adaptação da produção ao isolamento social foi mais fácil. As produtoras continuaram seus trabalhos, afinal os animadores não dependem de gravações e já estão acostumados ao home office. Talvez até seja um mercado a ser explorado com maior intensidade, visto que é possível manter a produção sem prejuízos pelos próximos anos, independentemente da mudança em relação à pandemia.
Enfim, acredito que devamos ser otimistas sobre o futuro do setor audiovisual brasileiro. Se por um lado, nunca nos apareceu desafio maior do que esse imposto pela pandemia, por outro lado nunca tivemos tanta importância e presença no cenário produtivo do nosso país. Devemos ser inteligentes e unidos para sairmos fortalecidos deste momento histórico.
Daniel Grizante
Daniel Grizante é professor na unidade Lapa Scipião do Senac São Paulo, onde coordena os cursos de pós-graduação em Animação e Direção de Arte Audiovisual e também leciona no Istituto Europeo di Design. Diretor de arte para animação e motion designer desde 2002, dirige e anima aberturas para programas de TV e filmes, videoclipes e comerciais. Junto ao Estúdio Preto e Branco, Grizante desenvolveu diversas peças audiovisuais para exposições em espaços culturais brasileiros, como o Museu da Imigração, Memorial da Resistência, CCBB, FIESP, Museu Casa Portinari e Sesc-SP. Também possui animações premiadas pelo ICOM International Committee for Audiovisual, New Technologies and Social Media. É doutorando em Design pela Universidade Anhembi-Morumbi e mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007).
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