20 Julho 2020
O novo da cultura e o desenvolvimento humano e econômico
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A crise sanitária mundial, seguida pela econômica, fez emergir uma série de questões -- algumas já em curso de debate, como a onda obscurantista pela qual o mundo vem passando, outras em estado de latência, como a importância da responsabilidade cidadã das pessoas físicas e jurídicas em resposta à pandemia.
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Nesse contexto, vale a reflexão sobre o processo de desglobalização instaurado nos últimos anos. “O único sentimento que parece ter-se globalizado é o de que quase todos nós perdemos”, disse o antropólogo argentino Néstor García Canclini (2019), em seu último trabalho publicado. O Brexit, as crises dos refugiados, as rivalidades entre nações são evidências científicas fortes de que o desejo de se desglobalizar é mundial.
Ironicamente, é exatamente em momentos assim que a cooperação solidária entre nações é requerida para a solução de muitos problemas globais, em que verificamos o movimento oposto: o espaço público dissolver-se nos interesses privados e a radicalização dos processos de descidadania acirrar-se.
Contudo, são dos processos coletivos que vêm nossas possibilidades de sobrevivência a esta situação pandêmica. É da ciência, da imprensa e das artes, tão demonizadas nos últimos tempos, que estamos dependendo para a manutenção de nossa sanidade.
As artes são, em minha visão, o espírito de alteridade que permeia nossas redes. Mesmo com nossas opiniões e nossos comportamentos submetidos aos algoritmos, conseguimos ser tocados por artistas que, sem nenhum ganho monetário relevante, vêm contribuindo com nossa saúde física e mental. Nesta mesma toada, começamos a nos deparar com novas formas de produzir e consumir cultura, com outras percepções sobre a fruição cultural.
A ressignificação da importância das culturas (sim, no plural) locais é o percurso pelo qual estamos todos do setor artístico torcendo. Mas, como a torcida não basta, pergunto ao leitor que alternativas temos para retribuir o setor artístico? Como as grandes empresas – no caso do setor do audiovisual brasileiro: agregadoras, distribuidoras, entre outras – contribuirão com isso?
A UNESCO reforçou que o desenvolvimento sustentável só é possível quando entendemos que a centralidade da cultura é premissa para isso. Nada de novo: parafraseando Celso Furtado, o desenvolvimento econômico só acontece a partir do desenvolvimento humano. E a cultura é o que define o humano.
Desculpem-me aqueles que acreditam em um novo normal, mas acredito que precisamos apenas de um novo: um novo olhar, um novo caminho, um novo coletivo, um novo social.
Gisele Jordão
Gisele Jordão é coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da ESPM São Paulo, professora da ESPM São Paulo e sócia da 3D3 Comunicação e Cultura. É doutora em comunicação e práticas de consumo, mestre em gestão internacional e graduada em comunicação social (ESPM São Paulo). Tem experiência na área de artes e gestão cultural, atuando principalmente nos temas: comunicação, gestão colaborativa, escuta afetiva, patrocínio e políticas culturais.
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