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Artigo / Diversidade

06 Julho 2020

Diversidade não é mimimi

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Na pesquisa de Hábitos Culturais dos Brasileiros, organizada pela JLeiva em 2018, a classe C aparece na faixa de 48% de consumo audiovisual  em salas de cinema. Em dados também de 2018 apresentados durante o Fórum Pay TV pelo Instituto Locomotiva, a classe C era 56% da base de assinantes da Netflix. A assinatura da plataforma é bem mais barata do que pagar para ir no cinema (condução + cinema + comida) e atrai consumidores até então com pouco acesso ao entretenimento de forma legal.

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No primeiro texto tratei do Circuito de salas da Spcine e sua importância para o direito ao acesso à cultura, este eu quero falar de quem está do outro lado, nas distribuidoras, nas exibidoras escolhendo, negociando, enfim programando o que veremos.

Nunca entendi do ponto de vista mercadológico a resistência à palavra diversidade. Pessoas são diversas em gênero, raça, orientação sexual, identidade sexual e querem se ver representadas nas telas, quando é dada a oportunidade elas agarram. O fato é que até pouco tempo atrás esta oportunidade era rara. Ou seja, quanto mais diversidade, mais as pessoas se identificam e consomem. E ainda...encontramos resistência. Me parece um caso de burrice mercadológica sem precedentes.

Agora, entre seus colegas de trabalho, na programação dos exibidores, escolhendo os projetos nas distribuidoras, quantas mulheres, negrxs, pessoas de classes sociais distintas (só para ficar neste recorte) há? O “backstage” é tão importante quanto, afinal pessoas plurais tem olhares diferentes.

Venho refletindo sobre isto agora na moda do #blacklivesmatter. Sim, “moda”, porque enquanto várias empresas colocavam suas hastags e faziam posts indignados, quantas de fato tem em suas equipes pessoas negras em cargos sênior? Coordenam áreas? Quantas tem poder de decisão? Se não tem, então sinto em informar: só estão seguindo moda no digital, enquanto as ações não existirem.

As plataformas digitais, principalmente a Netflix, compreenderam a necessidade de diversificar os projetos e equipe para seus negócios. É um movimento bem interessante de acompanhar. Na Spcine, temos os agentes cineclubistas, jovens de até 29 anos, mais de 50% negrxs e mulheres, das classes C e D, atuantes em seus territórios que além de programarem os cineclubes estão em formação semanal há mais de 6 meses com profissionais do mercado de distribuição, exibição, plataformas, festivais. Ou seja, em novembro, quando acabar o ciclo teremos 15 jovens com um currículo muito interessante em programação (em tempos de pandemia os cineclubes são digitais) e em conhecimento adquirido.

Com tantas ofertas de conteúdo audiovisual, de consumo, somados à pandemia e todas as implicações de impacto econômico que ela acarreta, algumas práticas precisarão ser revistas. Ou a diversidade é incorporada de fato pelas empresas, ou ficarão para trás.

Malu Andrade
Malu Andrade

Malu Andrade é fundadore da rede Mulheres do Audiovisual BRASIL, membre do + Mulheres, Diretore da Coração da Selva e foi Diretore de Desenvolvimento Econômico e Políticas Audiovisual da Spcine.

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