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Artigo / Negócios

17 Junho 2020

Sucesso é ser criador de mitos!

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Por incrível, que pareça ainda existem cineastas que têm vergonha de admitir que buscam o sucesso.

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Por sorte faz uns 20 anos que não tenho essa limitação. Todas as obras que escrevo buscam o sucesso. Eu nem sempre consigo, claro. Mas busco.  Primeiro, por respeito ao “público”, que admiro e quero agradar, transformar, dialogar.  Mas também por respeito aos meus parceiros investidores, artistas, correalizadores, etc. E, também porque fazer filmes é o meu sustento e o sucesso ajudam em minha felicidade. É muito simples e natural querer ter sucesso. Mesmo assim, ainda há quem se declare contra o sucesso.

Na verdade, eles buscam o sucesso longe do “público”, apenas entre seus pares. São basicamente elitistas que se acham superiores e perderam a capacidade de sua arte dialogar com o “povo”, com as “pessoas comuns”.  Esse conceito de artista como alguém superior ao “povo”, atrapalha muito. Eu sou roteirista e tudo que quero é ser um homem comum.  Pois quero dialogar com as pessoas comuns.

Imagine se os médicos preferissem apenas fazer pesquisas acadêmicas de ponta e exibi-las em congressos fechados (Festivais?), ao invés de realmente atender a população. Não teria mais consultórios médicos, teria apenas congressos de pesquisa de medicina, onde eles exibem apenas resultados de casos raros e difíceis, competindo entre si para ver quem ganhará o Oscar de melhor história médica.  O cineasta brasileiro, em alguns momentos, se comportou assim.  Claro que alguém vai dizer que medicina é mais importante que o cinema, que não teria sentido deixar as pessoas sem atendimento médico. Eu pessoalmente acho que também que é uma irresponsabilidade deixar as pessoas sem ter boas opções de filmes para assistir.  Pois considero a arte, em especial a arte de contar histórias, fundamental para a saúde de um povo. É ela que representa os conflitos atuais para transcendê-los, reelabora nossos problemas pessoais, nos ajuda a entrar no ponto de vista de outras pessoas (até mesmo nos nossos inimigos), transmuta traumas, ensina o perdão. Autores como Harari (Homo Deus), já mostraram que a arte de contar histórias foi o início da sociedade humana. Foram as grandes fábulas que conseguiram dar um sentido comum a nossa espécie, que promovem a paz e o progresso.  

A arte de contar histórias, seja em filmes e séries, é também fundamental para a democracia. Basta lembrar que a Democracia Grega surgiu junto com o Teatro, em Atenas.  Surgiram simultaneamente pois ter as histórias de nosso povo representadas na ficção é a base para o diálogo e a criação de coesão social.

Por tudo isso, precisamos de bons filmes e boas séries. Que tenham qualidade e se comuniquem com a maioria da população.  Que sejam simultaneamente comerciais e de arte, simultaneamente de gênero e autorais. Filmes e séries que recriem a mitologia do povo Brasileiro, sejam verdadeiros blockbusters, mas que também sejam inovadores e apresentem soluções para falsas dicotomias que distraem nossa sociedade.

E por tudo isso que acredito que devemos buscar o sucesso. Queremos que nossos filmes e séries sejam imensos sucessos, atinjam públicos nunca vistos, gerem franquias, vendam milhares de bonecos, livros, todos os produtos. Nosso sonho é criar personagens tão fortes que fidelizem fãs de cosplay que lotarão as ruas com fantasias de nossos personagens e criaram novos personagens inspirados no universo. Resumindo, é como dizia Fernando Pessoa: “Tudo que quero é ser um criador de mitos”.

É isso que é o verdadeiro sucesso: estar conectado com seu povo e ajudá-lo a transcender seus problemas. É suprir sua demanda imaginária, estando em contato com o Zeitgeist de uma época, o Espírito do Tempo ou, como diz uma expressão mais contemporânea e maravilhosa: com a “vibe” do momento. É isso, estar conectado com a vibe do momento. Mas a vibe é só da performance, do corpo do ator, da identidade pessoal.  Ok. Isso dá influencers, dá as estrelas do star system. Nisso estamos ótimos!

Falta agora a conexão com algo além, com as narrativas que conseguem juntar o passado o presente e o futuro, apontando caminhos. É isso que faz as grandes obras.

É isso que e o sucesso em cinema e tv.

É isso que pretendo analisar nos artigos que começarei a publicar aqui na Revista Exibidor, ajudando nosso setor a realizar obras de sucesso e que dialoguem com as tendências do momento.

Pois acredito que o Brasil tem grande potencial de ser um grande exportador de sonhos - traduzido em filmes e séries - que façam sucesso internacional e ajudem a humanidade nesse momento.

Além, é claro, de trazer riqueza para nosso povo.

Não é tão difícil quanto parece. Americanos ainda fazem isso, os coreanos estão correndo atrás, etc. O Brasil tem chance nesse jogo. Precisa de 3 coisas. Sonhar alto. Autores que se dediquem a verdadeiramente conhecer a identidade do povo brasileiro, nossa história e nossa mitologia, pois essa é a base do que melhor podemos mostrar ao mundo. E, por fim, é claro convencer grandes investidores!  Que garanto, se tivermos os outros itens, acontecerá naturalmente. Quem lê a Exibidor, o público deste artigo, é justamente quem pode liderar isso. O desafio está lançado.

Newton Cannito
Newton Cannito

Newton Cannito é autor roteirista de séries como Unidade Básica (Universal TV), 9mm (Fox/Netflix), entre outras. Roteirista de filmes como Reza à Lenda e Broder. Foi também Secretário do Audiovisual do Minc e é coordenador do Concurso Histórias para Unir o Brasil. (www.unirobrasil.com.br)

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