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Artigo / Produção

12 Junho 2020

Equidade de gênero e raça no audiovisual brasileiro: ações propositivas e afirmativas

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Este artigo foi escrito em parceria com Tainá Xavier.

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Em 2019, o Rio2C trouxe o tema da presença da mulher no setor audiovisual em diversos momentos da programação, refletindo uma tendência mundial da indústria criativa em incorporar debates e ações positivas de igualdade de gênero e raça em suas práticas. Um conjunto diverso de acontecimentos toma forma a partir de 2015 quando eventos, juris e premiações passam a ser questionados e tendem a ser mais inclusivos com mulheres e negros. São exemplos desse processo o painel “Agendas da Mudança” ocorrido durante o Cannes Lions 2018, o número histórico de premiações para mulheres e pessoas negras no Oscar 2019 ou a existência de 12 painéis com a palavra women na edição de 2019 do South by Southwest, dentre outros.

Falarmos sobre avanços não significa deixar de mencionar os desafios que ainda se impõem ao pensarmos em uma equidade real, tanto de gêneros, quanto racial, no mundo do trabalho, em geral, e na economia criativa, em particular.

Dados do estudo Emprego no Setor Audiovisual, realizado pela ANCINE em 2017, apontam a preponderância de homens brancos neste mercado, bem como evidenciam que a presença de mulheres no setor audiovisual é inferior à notada na economia brasileira. Já os Relatórios de Participação Feminina na Produção Audiovisual Brasileira de 2015 e 2018, produzidos pela mesma agência, apontam percentuais de participação ainda menores em determinadas funções técnicas do audiovisual.

Uma reflexão acerca das distribuições dos gêneros por funções no cinema brasileiro nos leva a questionar o porquê de determinadas áreas parecerem “naturalmente” femininas, como é o caso da direção de arte, citada no próprio informe da ANCINE como “comumente atribuída às mulheres”. Os números parecem indicar que as funções com maior presença de mulheres são aquelas cujas atribuições estão ligadas a habilidades de gerência, organização e cuidados, enquanto homens aparecem com mais frequência em funções relacionadas às técnicas especificamente audiovisuais, seja no manejo de equipamentos e máquinas, como é o caso da direção de fotografia, seja na condução de processos criativos/narrativos da obra audiovisual em geral (roteiro e direção).

O I Fórum Nacional Lideranças Femininas no Audiovisual, que ocorreu na 43ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, e contou com a presença de, ao menos, 40 líderes de entidades do setor audiovisual de diversas partes do país, provocou debates sobre a representação e participação feminina no setor audiovisual, bem como sobre o tema Viés Inconsciente, sob a perspectiva de como há uma naturalização, no comportamento social, de certa imagem de mulher, como já apontado no segundo volume de O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, que reconhece que a construção do feminino independe da natureza biológica da mulher, sendo um construto cultural que fixa significados para sua existência.

O Fórum foi importante marco, em nosso país, para o compartilhamento de ações e construção de uma agenda propositiva. Assim, o FORCINE (Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual), que congrega 32 instituições de ensino em cinema e audiovisual no país, comprometido com a necessidade de fortalecimento da pauta, elencou, como ação prioritária, levantamento de dados de forma a elaborar o documento Diretrizes para implementação de políticas para a diversidade nas escolas de cinema e audiovisual brasileiras. 

Já no início de 2020, a entidade vem mapeando corpos docentes e técnicos das escolas de audiovisual brasileiras, identificando políticas, iniciativas, projetos e coletivos que trabalham com diversidade e acessibilidade nas escolas, além de coleta de demandas e sugestões para as Diretrizes. Para saber mais, acesse o site www.forcine.org.br.

Se muito há a fazer em relação à equidade de gênero e raça no cinema brasileiro, em particular, e no mercado de trabalho do Brasil, em geral, as escolas de cinema e audiovisual têm o dever de problematizar sentidos previamente fixados à participação de mulheres e negros na esfera social e produtiva, bem como analisar processos estruturais que reduzem as oportunidades desses grupos, de forma a apontar caminhos para se avançar ainda mais no enfrentamento de tais questões.

Tainá Xavier

Professora licenciada da Universidade Federal Latino-Americana e doutoranda no PPGCINE da Universidade Federal Fluminense. Membro da Diretoria do FORCINE (Fórum Brasileiro de Ensino de Cinema e Audiovisual). Atua há mais de 20 anos em produção e direção de arte de obras audiovisuais.

Alessandra Meleiro
Alessandra Meleiro

Pós-doutorado junto à University of London e Professora do Bacharelado em Imagem e Som da Universidade Federal de São Carlos. Presidente do IC – Instituto das Indústrias Criativas, membro da UNCTAD/ONU. Foi Presidente do FORCINE entre 2016-2020. Autora de 09 livros sobre cinema mundial, políticas e indústria audiovisual. Atuou como Research Fellow na Dinamarca junto à Aarhus University (2014-2018) e VIA University/ School of Business, Technology and Creative Industries (2020) e como Consultora de empresas como Netflix Brasil, Itaú Cultural, Anima Mundi/JLeiva, dentre outras.

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