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Artigo / Tecnologia

11 Junho 2020

Processadores de Som

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Mesmo nos inícios da nossa arte-indústria quando o cinema era mudo, a imagem sempre foi acompanhada por som. A necessidade deste foi evidente nas primeiras projeções. A primeira solução foi a música, primeiro com piano ao vivo e depois com discos que acompanhavam o filme. Mas como o era quase impossível sincronizar os diálogos, durante um bom tempo se utilizaram cartelas com os textos dos atores. De ali o nome de cinema mudo. A grande invenção que fez possível o cinema “falado” ou “talkies” em 1927 foi registrar o som na mesma película de 35 mm que continha a imagem, garantindo o sincronismo e simplificando o copiado e a distribuição.  Os sistemas de som necessários nos cinemas consistiam em uma óptica incorporada ao projetor que fazia a leitura da trilha com o registro das vozes e musica, o transformava em um sinal elétrico, se enviava para um amplificador e de ali para um alto-falante por trás da tela. Bem simples, esta tecnologia de som sonorizou os cinemas desde 1927 até 1975, embora a qualidade do som, mesmo quando bem copiado e reproduzido era bem limitada e com um único canal. A exceção eram os sistemas com película de 70 mm introduzidos a partir de 1950, onde o som se registrava em trilhas magnéticas com som multicanal de alta qualidade, para estar à altura da imagem grande de alta resolução, larga e espetacular. Estes sistemas tinham o inconveniente de ser extremamente caros e de difícil manutenção, com cópias que custavam 10 vezes o valor de uma convencional de 35 mm.

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O som dos cinemas desde 1927 era muito precário, e por múltiplos motivos. A mediados da década dos 60, se ouvia muito melhor som em casa que nos cinemas, quando os discos e os equipamentos estéreo HI FI da sala já eram bem populares. Na década dos 70 iniciavam as transmissões de rádio estéreo de alta qualidade em FM. O público começava a perceber que havia um mundo melhor, mas o cinema convencional pouco havia mudado.

Reparando essa defasagem, em 1970 Ray Dolby e Ioan Allen da Dolby Laboratories começaram a estudar em forma integral porque o sistema todo era tão ruim, e encontraram que a acústica das salas, os equipamentos e até as cópias contribuíam ao problema. O objetivo era se aproximar da qualidade e dos múltiplos canais com que contavam os sistemas de filme de 70 mm. mas com cópias e sistemas bem mais caros. Em relação as copias, em 1975 lançaram comercialmente o sistema “Dolby Stereo”, que utilizava o mesmo espaço na película que o som convencional, com muita melhor qualidade, dez vezes menos chiado e com quatro canais incluindo um surround. Como era um sistema de registro óptico, nada mudava no copiado, por tanto sem custo adicional para os laboratórios. Por outra parte, as cópias ficavam compatíveis com os projetores convencionais, o que permitia a distribuição por inventário simples. Estas vantagens no copiado, distribuição e exibição fizeram desse sistema um sucesso imediato, tanto na produção quanto na exibição. Houve melhoras posteriores com a introdução da tecnologia SR que reduzia ainda mais o ruído de fundo próprio do filme, e o sistema chamado de Dolby SR se tornou quase o padrão universal da indústria, e o sistema sobreviveu até a chegada do cinema digital, ou seja, o fim da película.

Colocar quatro canais numa estreita trilha da película onde antes cabia só um, reduzir o chiado do filme e melhorar a qualidade do som não é uma tarefa simples e exige bastante processamento, tanto na elaboração em estúdios e posterior copiado como na exibição. E assim como os estúdios se equiparam para produzir neste sistema, ou codificar, foi necessário também equipar as salas com processadores de som capazes de fazer essas complexas operações todas em forma inversa, ou seja, decodificar, para extrair e reproduzir o som original criado no estúdio. Até aqui todos estes sistemas eram analógicos. A partir de 1990, foram introduzidas nas cópias o som digital, o que exige um sistema de decodificação adicional. Assim a película continha além da imagem, a pista de som analógica mencionada e até três sistemas de som digital. A pista analógica permanecia por dois motivos. O primeiro era permitir inventário simples na distribuição, para atender também as salas que não estavam equipadas com processadores capazes de reproduzir som digital. E o segundo, para servir de backup em caso que o sistema digital parasse de funcionar. O show tem que continuar. Assim, a película em seus últimos anos carregava uma enorme quantidade de informação. Não havia espaço sobrando, nem sequer entre as perfurações. 

Como consequência da pesquisa de Allen e Dolby, se fez evidente que a acústica das salas tinha um peso importante no problema. A matéria anterior tratava deste aspecto. Mas isto depende da arquitetura e não dos equipamentos. Para isto eles elaboraram uma série de documentos e recomendações para os arquitetos sobre os objetivos e métodos para lograr a acústica adequada nas salas, prática que hoje é mais bem considerada nos projetos. E aqui os processadores fornecem uma tarefa adicional essencial, a chamada equalização do sistema de som, um processamento adicional que “sintoniza” ou harmoniza o funcionamento de todos os componentes que afetam o som, incluindo as caixas e a acústica da sala. Cada sala tem um ajuste próprio, a medida. Esta função é também necessária para o cinema digital.

E já no mundo digital, com tanto espaço disponível para informação, foi possível implementar tecnologias novas que seriam impossíveis de distribuir em película, como o som imersivo, que exigem muita mais informação e processamento.  Hoje existem processadores especializados que além de equalizar também decodificam som imersivo, como o Dolby Atmos. Mas som imersivo merece outra entrega.

Carlos Klachquin
Carlos Klachquin | CBK@dolby.com

Carlos Klachquin é gerente da DBM Cinema Ltda, empresa de serviços, projetos e consultoria na área de produção e exibição cinematográfica. Formado como engenheiro eletrônico fornece suporte de engenharia em tecnologias de áudio, entre outras empresas, para Dolby Laboratories Inc, sendo responsável também pela administração de operações vinculadas à produção Dolby de cinema e ao licenciamento das mesmas na América Latina. Desde 2013, trabalha na implementação do programa Dolby Atmos na América Latina, incluindo a supervisão da instalação e a regulagem dos sistemas em cinemas e estúdios e da produção de som Atmos no Brasil.

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