Exibidor

Publicidade

Notícias /mercado / Mercado

18 Setembro 2018 | Roberto Sadovski

Com o crescimento do streaming, Europa entra na luta para garantir a experiência cinematográfica

Lançamento nos cinemas é vital para as plateias e para a indústria, declara a União Internacional de Cinemas (UNIC)

Compartilhe:

(Foto: Shutter Stock)

O avanço das plataformas de streaming trouxe novo fôlego para a produção audiovisual mundial, com os principais serviços do formato, como Netflix e Amazon Prime, abrindo a carteira para entrar no jogo da produção de longa metragens. O que era uma evolução natural, porém, passou a incomodar os que defendem a experiência cinematográfica pura, com grandes diretores trabalhando em filmes que, em teoria, seriam apreciados unicamente no conforto do lar.

Publicidade fechar X

Quando as produções passaram a tomar os grandes festivais de cinema do mundo, o mercado entrou em alerta, e o gatilho definitivo foi a vitória de Roma, filme de Alfonso Cuarón, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, indicação do México para uma vaga entre os competidores pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, e favorito para brilhar nas categorias principais. Tudo isso com uma produção Netflix, que assegurou uma janela para sua exibição no cinema (essencial para as regras de classificação para o Oscar), mas com data agendada para seu lançamento global pela plataforma de streaming.

O sucesso de Roma, e a perspectiva de filmes assinados por artistas como Paul Greengrass, Joel e Ethan Coen e Martin Scorsese sob a bandeira do Netflix, fez com que a UNIC, União Internacional de Cinemas que representa associações e exibidores em 37 territórios na Europa, somasse sua voz ao coro que busca garantir que todos os filmes selecionados para competição aos principais festivais de cinema em todo o mundo recebam lançamento completo em circuito exibidor.

“A UNIC quer expressar seu apoio para os colegas da rede de exibidores italianos, e também de outros países, para sugerir que os organizadores dos festivais considerem apenas produções que planejam um lançamento em cinemas”, disparou a associação em uma carta aberta. “A indústria do cinema pode coexistir com as plataformas de streaming, mas acreditamos que é saudável para a própria indústria, e para a plateia, que um filme ganhe lançamento adequado nos cinemas, incluindo uma janela de exibição clara e sem barreiras.”

A União defende que a experiência coletiva para assistir a um filme é essencial para o mercado, já que alimenta um senso de identidade e comunidade forte em seu território. Além disso, a sala de exibição ainda é o único lugar em que a visão de um diretor se torna de fato completa. Um filme, defende a UNIC, não é apenas uma obra audiovisual, mas engloba todo o ambiente construído a seu redor, da experiência social e cultural até a empolgação construída em torno de seu lançamento.

A Netflix, que até pouco tempo decretava a exibição em salas de cinema como ultrapassada, parece estar reavaliando sua estratégia. E não apenas por acreditar no cinema como um objeto de arte e entretenimento, mas também como negócio. Filmes exibidos antes em circuito cinematográfico ganham mais visibilidade nos mercados subsequentes, o que inclui streaming e video on demand, e o produto desenvolve-se a partir dessa base sólida. É uma cadeia de consumo, aponta a UNIC, que resulta em uma estratégia sólida ao agregar valor ao produto audiovisual.

A União aponta também a responsabilidade no ombro dos organizadores dos grandes festivais ao selecionar obras que, embora se beneficiem da visibilidade de eventos desse porte como ferramenta de marketing, receberiam um lançamento “técnico” nos cinemas antes de estender sua vida no streaming. “Filmes pertencem à tela grande”, conclui Laura Houlgatte, da UNIC. “É fundamental que os festivais sigam o exemplo de Cannes para celebrar a relevância social, cultural e econômica dos cinemas ao elaborar sua política de seleção no futuro.”

Compartilhe:

  • 0 medalha